 "Reprodução/TV Globo/Fábio Rocha")
Após meses de exibição e uma intensa mobilização de público nas redes sociais, o remake de ‘Vale Tudo’ chega ao fim nesta sexta-feira, 17 de outubro, confirmando seu lugar como um dos maiores fenômenos da teledramaturgia contemporânea. Mais do que revisitar um clássico, a nova versão da novela criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères trouxe de volta à pauta a eterna pergunta que atravessa gerações: vale tudo para vencer?
A adaptação escrita por Manuela Dias, a mesma autora de ‘Amor de Mãe’, não apenas atualizou os dilemas éticos e morais que marcaram o original, mas também transformou o remake em um espelho do Brasil atual — um país em que o debate sobre honestidade, poder e ambição segue tão vivo quanto em 1988.
Em entrevista à reportagem de IstoÉ Gente, Catarina Flório, Media Strategy Director na WPP Media Services, analisou o papel da mídia na construção do interesse do público e na consolidação do sucesso da novela. Para ela, Vale Tudo foi um exemplo claro de como a força da comunicação e das plataformas digitais redefine a relação entre TV, audiência e marcas.
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O reencontro entre gerações
Segundo Catarina, a repercussão em torno do remake começou muito antes da estreia, e a mídia teve papel essencial nesse processo. “A mídia foi o ponto de partida. Vivemos em um momento de forte nostalgia, e revisitar a ‘novela das novelas’ criou um encontro entre gerações: quem viveu o original e quem só conhecia o mito”, explica.
O resgate do clássico, aliado ao prestígio da autora, fez da estreia um evento cultural. “O universo digital já dominava o ‘quem matou Odete Roitman?’, e o poder viral desse imaginário coletivo reacendeu o interesse de forma orgânica, mas também coordenada pela massiva produção de conteúdo sobre o título”, completa Catarina.
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As redes sociais como motor da audiência
Em um cenário de consumo fragmentado, as redes sociais foram determinantes para impulsionar o engajamento. Catarina observa que plataformas como X (antigo Twitter), Instagram e TikTok se tornaram centrais na construção da conversa pública em torno da novela.
“As redes se tornaram o termômetro do engajamento. Quantas vezes a gente decide assistir algo só porque está em discussão online? Com Vale Tudo, os edits, as falas icônicas, as críticas e as teorias criaram um ciclo constante de curiosidade. Esse movimento ultrapassou a TV tradicional, impulsionando acessos históricos no Globoplay e expandindo o público, que agora acompanha a novela no seu próprio tempo e formato.”
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Tradição e digital em diálogo constante
Ao longo da exibição, a cobertura tradicional e digital seguiram caminhos diferentes, mas complementares. Enquanto os veículos de imprensa analisavam a obra com mais profundidade e distanciamento, as redes reagiam em tempo real, criando uma dinâmica inédita entre crítica, humor e participação coletiva.
“Os canais digitais reagem com velocidade, memes e opiniões instantâneas, enquanto a imprensa tradicional analisa com foco técnico e contextual. Cada um fala com seu público, mas juntos eles mantêm viva a conversa sobre a novela”, pontua Catarina.
Uma nova leitura dos temas sociais
Assim como na versão original, o remake trouxe discussões relevantes sobre ética, corrupção e relações familiares — agora sob uma perspectiva mais contemporânea.
“Manuela Dias tem essa habilidade de incorporar temas latentes e traduzir o espírito do tempo em seus roteiros. A cobertura midiática reforça esse movimento, trazendo debates paralelos que estimulam novas leituras. Essa troca entre trama e mídia é o que torna o remake especial, pois reabre conversas que antes eram ignoradas”, afirma Catarina.
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Estratégia e marketing por trás do sucesso
Além da força do conteúdo, o sucesso de Vale Tudo também se deve a uma estratégia de comunicação cuidadosamente planejada pela Globo.
“A orquestração da emissora foi fundamental para a antecipação do sucesso”, avalia Catarina. “A estratégia envolveu desde a criação de um ecossistema de conteúdos, como o perfil da Fátima nas redes, até ativações cruzadas que mantiveram a novela em pauta antes mesmo da estreia.”
Ela destaca ainda o cuidado da emissora na integração entre produto e marca. “O marketing trabalhou com sutileza e relevância. As inserções de marcas dentro da trama geraram conversas espontâneas e mostraram o poder do storytelling aliado ao branding. Ver ícones brasileiros adaptados ao enredo foi um espetáculo à parte.”
A força dos personagens e da memória coletiva em ‘Vale Tudo’
A executiva também comenta o impacto da mídia na construção e na percepção dos personagens, especialmente os mais emblemáticos. “A mídia não apenas apresenta os personagens, mas orienta o olhar do público sobre eles. No caso de figuras icônicas como Odete Roitman e Raquel Accioli, o discurso midiático teve papel decisivo ao alimentar o debate sobre quem seria digna de ocupar esses papéis e o que mudaria em relação ao original. Essa construção guiada manteve viva a conversa entre passado e presente.”
Polêmicas que impulsionam conversas sociais
Entre os episódios mais marcantes do remake, Catarina cita a cena em que Lucimar denuncia Vasco pela pensão. “Embora ‘polêmica’ soe negativo, nesse caso ela trouxe à tona um tema pouco debatido: o direito de reivindicar o que é justo. A forma como mídia e público reagiram mostrou como esses assuntos ainda despertam desconforto social. A partir dali, acredito que a novela ganhou nova força, virou espelho e catalisador de conversas fora da ficção.”
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Um clássico que segue atual
Ao refletir sobre o legado do remake, Catarina Flório destaca que a mídia foi responsável por manter Vale Tudo em constante atualização — mais do que um resgate nostálgico, uma reinvenção cultural.
“O maior impacto da mídia foi transformar Vale Tudo em uma obra viva, não apenas uma releitura. Cada capítulo virou um evento social que reafirma o poder da comunicação em espelhar e inspirar o Brasil de hoje. Assim, Vale Tudo deixa de ser lembrança e volta a ser espelho — um reflexo vivo do país e de suas contradições.”
Com um desfecho aguardado por milhões de espectadores, o remake encerra seu ciclo reafirmando o papel da televisão como espaço de debate público e emoção coletiva. E, como no final original, a dúvida persiste no ar — não apenas sobre quem matou Odete Roitman, mas sobre o que, afinal, continua valendo no Brasil de hoje.
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