A mineradora Vale omitiu a divulgação de boletins que poderiam ter evitado o colapso, em 25 de janeiro, da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, que deixou 270 mortos e desaparecidos, informou nesta terça-feira (5) a Agência Nacional de Mineração (ANM).

O colapso da barragem liberou milhões de toneladas de resíduos de mineração. Após a tragédia, a Vale, empresa que é a maior produtora mundial de ferro, se viu forçada a suspender algumas de suas operações em instalações equipadas com barragens com alteamento a montante, mesmo tipo da que se rompeu.

Documentos internos que foram analisados pelos investigadores da ANM mostram que a empresa estava ciente de problemas no sistema de drenagem instalado sete meses antes da tragédia.

Em 10 de janeiro, duas semanas antes do rompimento, os níveis de dois instrumentos que mediam a pressão da água subiram e entraram em nível de emergência. “O aumento da pressão dos piezômetros compromete a estabilidade da barragem”, aponta a ANM. Mas a Vale não passou essas informações à agência.

“Se a ANM tivesse sido informada corretamente, poderia ter tomado medidas cautelares e cobrado ações emergenciais da empresa [Vale], o que poderia ter evitado o desastre”, destacou o órgão oficial em um comunicado.

A Vale indicou en un comunicado que não faria comentários sobre “as decisões técnicas tomadas por sua equipe geotécnica no momento da ruptura”.

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– Mais pressão sobre a Vale –

O informe da ANM aumenta a pressão sobre a mineradora.

A polícia disse em setembro que tinha evidências suficientes para acusar funcionários da Vale e da empresa de certificação alemã TUV SUD pelo uso de informações falsas para certificar que a barragem de Brumadinho cumpria os requerimentos de segurança.

Cabe aos promotores decidir se apresentarão acusações contra sete empregados da Vale, nenhum de alta hierarquia, e seis empregados da TUV SUD, entre eles um diretor de desenvolvimento baseado na Alemanha, assim como engenheiros e consultores que certificaram a estabilidade da barragem em 2018.

Uma comissão legislativa aprovou nesta terça-feira por unanimidade uma moção que propõe denunciar judicialmente a Vale e a TUV SUD.

Um juiz condenou em setembro a Vale pagar 11,87 milhões de reais (quase três milhões de dólares) às famílias de três vítimas da tragédia.

Outro tribunal ordenou em julho que a empresa pagasse todos os danos causados pelo desastre, sem estipular uma quantia específica.

Desde então, o Brasil proibiu a construção de novas barragens com alteamento a montante, que são mais baratas mas menos estáveis que outros tipos, e ordenou desmantelar as existentes con essas características.

– Aniversário da tragédia de Mariana –

A ANM publicou seu relatório, de 194 páginas, exatamente quatro anos depois do rompimento de outra barragem em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, também em Minas Gerais, pertencente à empresa Samarco, uma ‘joint-venture’ controlada pela Vale e a mineradora anglo-australiana BHP.


Em 5 de novembro de 2015, os resíduos soterraram o distrito, matando 19 pessoas. A enxurrada percorreu mais de 600 km a jusante pelo rio Doce e seus afluentes, até desembocar no oceano Atlântico, provocando a pior tragédia ambiental do país.


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