Como se estivessem em um mundo de fantasia, mulheres usam véus e vestidos de cores luminosas, e homens trajam capas em estilo romano: são o figurino que os médiuns usam nas cerimônias no Vale do Amanhecer, arredores de Brasília.

A apenas 50 km da capital, o Vale do Amanhecer é sede de uma religião “new age”, e em 1º de maio, Dia do Trabalhador, celebram seu ritual mais importante do ano para comemorar os “doutrinadores”, pessoas que se comunicam com espíritos, bons e maus.

Esta religião eclética, que em novembro completa 50 anos, une práticas do cristianismo, do espiritismo, do hinduísmo, figuras das religiões afro-brasileiras, símbolos incas, egípcios, tradições esotéricas, e até mesmo a crença em vida extraterrestre e nas viagens intergalácticas.

Dezenas de seus membros vivem no Vale do Amanhecer, uma comunidade fundada em 1969 por Neiva Chaves Zelaya, uma caminhoneira, viúva e mãe de quatro filhos, que chegou a Brasília para trabalhar na construção da capital.

Quase uma década antes, Tia Neiva, como é conhecida com carinho na comunidade, começou a ter visões que atribuiu a mensagens de Pae Seta Branca, uma reencarnação de Francisco de Assis, cuja representação é um indígena com túnica azul celeste, cocar de penas e uma lança branca nas mãos.

Com cerca de 600 templos no Brasil, em Portugal, na Alemanha, no Japão, na Bolívia, no Uruguai e nos Estados Unidos, este movimento reivindica cerca de 800.000 membros, segundo estudos de Kelly Hayes, pesquisadora de religiões brasileiras na Universidade de Indianapolis.

“Uma das coisas que mais surpreende do Vale é sua cosmologia, como sintetiza uma notável variedade de influências em uma grande narrativa, na qual seus membros compartilham uma identidade coletiva que se expande no passado, presente e futuro”, conta Hayes em uma palestra de 2014 baseada em seu livro que trata da pesquisa sobre esta peculiar comunidade religiosa.

No centro de um típico bairro periférico ficam o Tempo do Amanhecer e o Solar dos Médiuns, onde este grupo realiza cerca de 500 rituais e para onde vão, dizem eles, cerca de 12 mil pessoas por mês buscando curas para todos os tipos de males.

Em suas ruas é comum ver nas padarias e supermercado alguns fiéis, trajando suas roupas coloridas, em atividades cotidianas, como tomando café, ou comprando pão.

“Minha vida espiritual é muito boa, antes não era assim, eu não tinha paz espiritual, mas na doutrina tenho paz e me sinto bem”, afirma Ronaldo Lopes, professor de inglês que vive na comunidade há seis anos.