Guerras longas são assim, a gente já sabe. No início, as imagens chocam, os debates ficam acalorados, as consequências políticas e, principalmente, sociais e econômicas, parecem estar bem próximas de chegar até nós. Mas dias passam, viram semanas e meses. E o assunto fica velho, vai para a parte de baixo das primeiras páginas dos impressos, com chance de nem aparecer por lá. Na TV, passa a preencher espaço nos jornais, quase uma coisa burocrática. A invasão russa na Ucrânia já está se encaixando nesse modelo.

O embate tem lá seu fator midiático forte, na pele de Volodymyr Zelensky. O sujeito foi um astro de humor televisivo antes de rumar à política. Alguma coisa ele demonstra ter aprendido. Sua maneira de passar constantemente o chapéu atrás de dinheiro e armas para o mundo ocidental cumpre roteiros bem elaborados em seus discursos e segue uma agenda meticulosamente escolhida de eventos globais. Ele consegue as articulações que planeja, embora às vezes a coisa fique empacada com um ou outro líder, está aí o Lula para servir de exemplo de quem não segue o ritual de contatos construído por Zelensky. Mas, bem ou mal, o líder ucraniano usa sua figura para manter a guerra na mídia.

No último final de semana, um evento quase paralelo ao conflito serviu para animar a cobertura. A revolta do Grupo Wagner, os mercenários que a Rússia acolheu e agora precisa acalentar, jogou novamente o conflito ao topo do noticiário. Estaria ameaçado o projeto de poder de Putin? O recuo do grupo amotinado veio em pouco tempo, mas, além de qualquer efeito prático, destacou que a posição atual da Rússia no conflito não é tão firme como alguns pensavam. Isso dá uma dose extra de otimismo a Zelensky?

Talvez seja a hora de falar claramente sobre a Ucrânia. A solução mais tranquila para o povo do país, a retirada das tropas russas, não pinta exatamente um quadro encorajador a uma terra devastada. A resistência já demonstra ter sido longa demais. A Ucrânia tem cidades que, mesmo tendo sua retomada das mãos dos russos considerada uma vitória a ser comemorada, estão em destruição total. Algumas tem 5% de sua área construída preservada. Outras, nem isso.

Será complicado Zelensky iniciar uma possível campanha para reconstrução do país. Além disso, e sem dúvida o maior motivo de preocupação, a Ucrânia sairá dessa guerra mais dividida do que nunca, com grupos internos que deixaram de lado divergências entre si para uma união pela defesa do território de todos. Mas são muitos os grupos antagônicos e, certamente, ao final do confronto maior, todos estarão mais armados do que jamais estiveram e dispostos a aproveitar o momento de fragilização da nação para lutar por seus interesses.

É difícil configurar a Ucrânia que sobrará depois da guerra. E isso, obviamente, se a unidade nacional for mantida. Um outro resultado, mais temeroso, é a fragmentação do país após o fim dos confrontos. Que Ucrânia irá sobrar?