Em pouco mais de um mês de interinidade, o governo de Michel Temer perdeu seu terceiro ministro, com a saída de Henrique Eduardo Alves, do Turismo. O motivo, o mesmo de sempre: a Lava Jato, que já havia abatido Romero Jucá e Fabiano Silveira.

Neste caso mais recente, a razão foi a delação de Sergio Machado, da Transpetro, e a expectativa do que pode vir a aparecer nas megadelações das empreiteiras Odebrecht e OAS. Como Alves foi candidato ao governo do Rio Grande do Norte em 2014, sua campanha, na certa, foi irrigada com o dinheiro farto das empreiteiras.

Com a delação de Machado, praticamente todos os partidos foram atingidos – do PCdoB ao DEM, passando, claro, por PT, PMDB e PSDB. Isso revela que é chegada a hora de se fazer a reforma política e acabar com a hipocrisia que tem dominado as discussões políticas no Brasil. É certo que os maiores estragos foram causados aos peemedebistas, acusados de arrecadar mais de R$ 100 milhões em propinas, apenas na Transpetro. Mas o fato é que Machado envolveu 23 políticos de oito partidos e disse que o esquema ilícito de financiamento de campanha no Brasil existe desde 1946.

Esse arco multipartidário de contaminação deveria unir as forças democráticas em torno da reforma política, sem discursos de mocinhos versus bandidos. Se Temer foi atingido pela acusação que envolve a campanha de Gabriel Chalita em 2012, e, em seguida, afirmou que as acusações são “levianas” e “mentirosas”, o momento, agora, exige que se vá além dos discursos. O ponto central: que reforma política Temer propõe para o Brasil? A mesma pergunta deve ser dirigida à presidente afastada Dilma Rousseff e a líderes da oposição, como os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-MG), bem como ao governador Geraldo Alckmin, todos presidenciáveis.

Com o avanço da Lava Jato, um dos caminhos é se esconder e torcer para que apenas os adversários sejam atingidos pelo tsunami. No entanto, como todas as forças políticas vêm sendo varridas, há a esperança de que, agora, possa haver alguma disposição para o diálogo e a criação de pontos de consenso. Caso contrário, não sobrarão lideranças tradicionais de pé e o Brasil se verá diante do imponderável nas próximas eleições, sejam elas antecipadas ou não.