Nova-iorquinos que desejam curtir na areia e tomar um sol terão uma opção diferente. A ilha de Manhattan terá sua primeira praia pública, a ser inaugurada no verão dos Estados Unidos. Batizado de Gansevoort Peninsula, o local será uma imensa área de lazer às margens do rio Hudson. A proposta é oferecer a experiência do litoral, mas nada de se jogar na água. Nadar está proibido, pois a água é imprópria. Mesmo assim, a comunidade está animada. “As pessoas querem um lugar para deitar e tirar a camisa, e é isso que terão aqui”, declarou Cricket Day, um dos arquitetos responsáveis, à imprensa dos Estados Unidos. A obra é concepção do renomado escritório James Corner Field Operations. A empresa também assina a criação do High Line, famoso parque linear em Nova York, com mais de dois quilômetros de extensão. “Toda essa área foi revitalizada graças a esse jardim suspenso, que se tornou um refúgio para os moradores”, ressalta a arquiteta Georgea Golunski. Por isso, as apostas são de que a praia artificial idealizada pela companhia será o novo point. Afinal, metrópoles exigem retiros urbanísticos.

“Complexos assim prezam pela convivência e o contato com a natureza. Um espaço para uma pausa diante da caótica rotina”. Gansevoort foi criado para ser o oásis verde em meio ao cinza dos edifícios ao custo de US$ 70 milhões. O ponto turístico está sendo construído desde 2019 e as obras estão na fase final. Parte integrante do parque Hudson River, o local tem 2,2 hectares, calçadões, zona arborizada, pista para cães, cinturão com grama para relaxar, campo esportivo gramado de 67 x 96 metros, setor de ginástica, faixa de areia com espreguiçadeiras e guarda-sóis e costa rochosa com acesso ao rio, para pequenas embarcações e velejadores não motorizados, como caiaques. Apesar disso, a poluição das águas não permitirá banhos. “Deixamos claro desde o início que esta não é uma praia para isso”, enfatizou Noreen Doyle, CEO do Hudson River Park Trust. “O Hudson teve progresso em termos de saúde desde que a Lei da Água Limpa foi aprovada nos anos 1970, mas a nova área não foi projetada para nadar”. A verdade é que os profissionais da James Corner não consideraram viável a construção de uma orla. “A primeira tempestade destruiria tudo”, observou Day.

NOVA YORK A urbanista brasileira Georgea Golunski em viagem pela cidade: refúgios arquitetônicos são bem-vindos (Crédito:Divulgação)

Não importa para o nova-iorquino, que não precisará enfrentar o trânsito até Jersey Shore ou Hamptons. A península terá mais atrações, como intervenções artísticas. No geral, a finalidade é agradar de crianças e seus castelinhos de areia aos grupos da terceira idade. Por isso, a comunidade permaneceu ativa na idealização do parque. Partiu das famílias o pedido do campo esportivo. “Criamos variações e divisões multiuso”, detalhou Karen Tamir, arquiteta paisagista do empreendimento.

A Gansevoort Peninsula passa a ser um exemplo para outras metrópoles ao redor do mundo. E também um estudo de caso. “A requalificação de áreas que estão em desuso ou ociosas é sempre uma questão debatida pelos urbanistas”, considera Juliane Bellot Rolemberg Lessa, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas. “Se por um lado é necessário qualificar a infraestrutura urbana e procurar garantir a equidade das condições de vida nas diversas áreas, por outro os projetos de requalificação geralmente impulsionam a gentrificação”, diz Juliane, referindo-se ao fenômeno de quando um lugar passa a ser mais valorizado a ponto de ficar caro demais para quem já mora ali. Para o urbanista André Gomes, ações dos órgãos públicos em prol do lazer do cidadão têm seus benefícios. Em São Paulo, por exemplo, a Avenida Paulista fechada aos domingos e feriados e o Parque Augusta, no centro da capital, foram tomados pela população. “É preciso se apegar a propostas como essas e parar de reclamar um pouco. Poderíamos ter mais, sim. Mas se nos apropriarmos da cidade nessas esferas, aos poucos, chegamos lá”, finaliza Gomes.

Oásis na metrópole

Com investimentos de US$ 70 milhões, a primeira praia pública de Manhattan integra o Hudson River Park. Comunidade teve intenso envolvimento com os responsáveis pelo projeto, que tem pântano salgado para melhoria do habitat e instalação com ostras para proteger o ambiente das águas