Um estudo publicado em junho na revista NPJ Vaccines revela que imunizantes utilizados para combater as infecções por varicela-zóster (VZV) e pelo vírus sincicial respiratório (VSR) podem reduzir o risco de desenvolver demência. O primeiro vírus é conhecido por causar catapora e herpes-zóster, já o segundo leva a quadros respiratórios leves em adultos, com sintomas semelhantes aos de um resfriado, e bronquiolite em crianças.
A pesquisa, feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, sugere que um dos motivos por trás desse efeito pode ser o “AS01”, composto químico adjuvante que costuma ser implementado por farmacêuticas para potencializar a resposta imunológica dessas vacinas.
Estudos anteriores com camundongos, publicados em 2013 e 2024, já haviam indicado que o AS01 pode estar relacionado à redução do acúmulo de placas amiloides, fragmentos tóxicos de proteínas que se formam no cérebro de pessoas com Alzheimer. Outras pesquisas demonstraram que a vacina contra o VZV teria efeito protetor contra a demência.
Na investigação de Oxford, o objetivo era verificar se essa consequência estava ligada especificamente a esse imunizante ou a outros fatores de sua formulação. Daí porque a equipe decidiu comparar indivíduos imunizados contra o zóster e outros vacinados contra o VSR, cuja vacina também conta com o adjuvante AS01.
Os estudiosos analisaram dados de prontuários de mais de 436 mil pacientes com 60 anos ou mais, disponibilizados no registro eletrônico de saúde dos Estados Unidos, o TriNetX. No total, os cientistas compararam o risco de demência entre pessoas de quatro grupos: vacinados apenas contra varicela-zóster, apenas contra o VSR, imunizados para ambos os vírus e aqueles que não receberam nenhuma das duas vacinas.
Os resultados apontaram reduções significativas na probabilidade de detectar uma doença neurodegenerativa nos 18 meses seguintes à aplicação dos imunizantes. Os vacinados contra o VSR, por exemplo, demonstraram um risco 29% menor de desenvolver demência; já entre os imunizados somente para o zóster, essa redução foi de 18%. No caso daqueles que receberam ambas as vacinas, a probabilidade foi 37% menor.
“O estudo também descobriu que a redução da demência acontece independentemente da frequência de infecção, uma vez que o efeito protetor das duas vacinas já pôde ser observado três meses após a aplicação – menos tempo do que o imunizante leva para começar a prevenir contra os vírus”, destaca a neurologista Livia Almeida Dutra, coordenadora do Instituto do Cérebro do Einstein Hospital Israelita.
Resultados não são definitivos
Mas é preciso cautela ao analisar esses achados. “Esse não é um estudo causal, o que significa que seus resultados não esclarecem todos os mecanismos envolvidos no efeito observado. É possível, inclusive, que a redução da demência seja uma consequência multifatorial, não restrita ao AS01”, observa Dutra. “Por outro lado, ele acrescenta dados científicos a uma discussão já existente sobre o papel do AS01 no tratamento do Alzheimer.”
Como a pesquisa é baseada na revisão de prontuários médicos, ainda são necessários ensaios clínicos para analisar com mais profundidade se existiram variáveis diferentes da vacina que estejam associadas à redução do risco de demência.
Além de compreender melhor os mecanismos de atuação do AS01, os autores afirmam que também seria preciso entender a duração desse possível efeito benéfico. De qualquer forma, é mais uma evidência do poder da imunização.
Conheça as vacinas
A vacina contra o herpes-zóster não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), mas pode ser encontrada na rede particular. Sua aplicação segue um regime de duas doses, com indicação para adultos acima dos 50 anos.
Já o imunizante contra o VSR, que também está disponível no setor privado, teve sua incorporação no SUS anunciada em fevereiro de 2025 pelo Ministério da Saúde. A vacina Abrysvo, da farmacêutica estadunidense Pfizer, será disponibilizada para gestantes, que passam os anticorpos para o feto.
Aplicada em apenas uma dose, pode ser dada entre a 24ª e a 36ª semanas de gestação. Mas é recomendado que a imunização ocorra no mínimo duas semanas antes do parto para garantir os efeitos protetores.
Há também a opção de vacinação contra o VSR para idosos. Disponíveis para esse público na rede privada, os imunizantes Abrysvo e Arexvy, esse da britânica GSK, são aplicados em dose única. Estão disponíveis para pessoas de 60 a 69 anos que tenham comorbidades e para todos a partir de 70 anos.
Fonte: Agência Einstein
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