As agências reguladoras de medicamentos nos Estados Unidos (FDA) e na Europa (EMA) emitiram comunicados recomendando uma pausa na vacinação contra chikungunya em idosos para a avaliação de eventos adversos que foram relatados nessa faixa etária.
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Duas mortes e casos adversos
A Food and Drug Administration e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendaram a interrupção temporária na aplicação da Ixchiq em indivíduos com 60 anos ou mais. Na Europa, a European Medicines Agency orientou a pausa para idosos a partir de 65 anos. Os demais públicos — indivíduos de 18 a 59 anos, nos Estados Unidos, e de 12 a 64 anos, na Europa — podem ser vacinados normalmente.
Os órgãos afirmaram que foram relatados 17 eventos adversos graves, dois deles resultando em óbitos, em idosos de 62 a 89 anos que receberam o imunizante no mundo — cerca de 80 mil doses de Ixchiq foram distribuídas globalmente e 40 mil já foram aplicadas em campanhas de vacinação, conforme a estimativa da fabricante.
“Um dos casos fatais envolveu um homem de 84 anos que desenvolveu encefalite. O segundo caso envolveu um homem de 77 anos com doença de Parkinson cuja dificuldade para engolir piorou e pode ter causado pneumonia por aspiração“, informaram os órgãos europeus. Os dois casos fatais ocorreram no departamento ultramarino francês de La Réunion, onde há uma campanha de vacinação em andamento após um recente surto de chikungunya.
De acordo com as entidades, a maioria dos relatos envolve indivíduos com condições médicas crônicas subjacentes e que os eventos podem não estar ligados ao imunizante. “Muitas das pessoas afetadas também tinham outras doenças e a causa exata desses eventos adversos e sua relação com a vacina ainda não foram determinadas”.
A Valneva, fabricante do imunizante, afirmou que “está comprometida em manter os mais altos padrões de segurança e se envolveu proativamente com as autoridades de saúde em todos os territórios onde a Ixchiq é licenciada para fornecer informações oportunas sobre todos os eventos adversos graves conhecidos”.
A Ixchiq contém uma cepa do vírus chikungunya que foi atenuada (enfraquecida) para não causar a doença. A lógica da vacinação é a seguinte: quando uma pessoa recebe o imunizante, seu sistema imunológico reconhece o vírus enfraquecido como “estranho” e produz anticorpos contra ele. Se eventualmente ela for infectada depois, suas defesas reconhecerão o invasor e serão capazes de combatê-lo de maneira mais eficaz.
E no Brasil?
No Brasil, o imunizante foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 14 de abril e sua incorporação ao SUS (Sistema Único de Saúde) está em análise para vacinação de cidadãos a partir dos 18 anos. O pedido de registro foi feito em parceria com o Instituto Butantan, que trabalha em outra versão do imunizante.
Questionados sobre as restrições temporárias no exterior, a Anvisa e o Butantan não se manifestaram até a publicação deste texto. O conteúdo será atualizado quando as instituições se posicionarem.
A doença
A doença é causada pelo vírus chikungunya, transmitido por mosquitos do gênero Aedes — o mesmo responsável pela transmissão da dengue, que ultrapassou a marca de 1 milhão de casos em território brasileiro em 2025.
De acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas da chikungunya incluem febre, dor intensa nas articulações, dor de cabeça e muscular, inchaço nas articulações, manchas vermelhas pelo corpo, náuseas e vômitos.
A maioria dos pacientes se recupera em uma semana, mas alguns permanecem sentindo dor nas articulações e uma parcela pode desenvolver uma doença aguda grave, associada à falência múltipla de órgãos.
Em 2025, o país já contabilizou 91.110 casos prováveis da doença, segundo a pasta da Saúde. Foram confirmadas 75 mortes e outros 71 casos fatais seguem em investigação.