Cientistas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos – referência mundial para a área – anunciaram ao mundo, na semana passada, uma notícia aguardada há mais de dois anos, quando surgiram os primeiros casos de infecção pelo vírus zika. Em um artigo publicado na revista científica The Lancet, eles descreveram os resultados da fase dois – etapa avançada de testes em humanos – de duas vacinas contra o vírus. Os produtos garantiram imunidade de 60% a 100% dos voluntários, dependendo do tipo do imunizante, a dose e o modo de aplicação. Anthony Fauci, diretor da instituição e uma das mais respeitadas autoridades mundiais no tema, resumiu o que significaram as conclusões a respeito do desempenho dos remédios. “Precisamos urgentemente de uma vacina contra o zika”, afirmou. “Começamos os testes clínicos menos de um ano depois do aparecimento dos casos e ficamos encorajados com a demonstração de que os produtos são seguros e eficientes.”

MÉTODO Os voluntários vacinados com o injetor sem agulha foram mais protegidos (Crédito:NIAID)

As duas vacinas foram criadas com engenharia genética (leia quadro ao lado). Ambas diferem uma da outra apenas levemente, mas uma delas, batizada de VRC5283, foi a que apresentou a maior eficácia. Testada em 45 voluntários saudáveis com idade entre 18 e 50 anos, a medicação imunizou até 100% daqueles que a receberam no músculo através de um aparelho injetor sem-agulha. Em outra parte do grupo, a administração foi com seringa em diferentes intervalos entre duas ou três doses. No restante, a vacina foi aplicada em uma dose só, dividida em injeções nos dois braços.

“Ficamos encorajados com a demonstração de que os produtos são seguros e eficientes” Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas (EUA) (Crédito:Divulgação)

Dose única

Não é possível prever quando os medicamentos estarão disponíveis. De qualquer forma, eles são o que há de mais perto de chegar ao mercado. Há no mundo instituições e laboratórios farmacêuticos pesquisando um imunizante contra o vírus – responsável por sérios problemas cerebrais em bebês nascidos de gestantes infectadas e várias complicações neurológicas em adultos – , mas boa parte em etapa pré-clínica. Na semana passada, a Johnson & Johnson anunciou seu progresso na criação de uma vacina, de dose única, e informou que iniciará ainda este ano testes em humanos.

No Brasil, acontece sob a coordenação do Instituto Evandro Chagas, vinculado ao Ministério da Saúde, o experimento mais avançado. Os cientistas brasileiros trabalham em conjunto com colegas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e das universidades do Texas e de Washington, também nos EUA. Recentemente, o grupo divulgou na revista científica Nature Communications – outra renomada publicação científica – os resultados de seus estudos com uma vacina, de dose única, que se mostrou eficiente na prevenção da doença em animais. “Houve uma proteção robusta, com a produção de um nível altíssimo de anticorpos”, afirma o virologista Pedro Fernando Vasconcelos, diretor do Evandro Chagas. O grupo planeja iniciar os testes clínicos a partir do segundo semestre do ano que vem.