Por Pilar Olivares

MAGÉ, Rio de Janeiro (Reuters) – Um raio de esperança chegou a uma comunidade de descendentes de escravos foragidos nos arredores da cidade do Rio de Janeiro quando esta recebeu suas primeiras doses de vacina contra Covid-19 após uma longa luta por reconhecimento no momento em que o Brasil se torna o epicentro da pandemia de coronavírus.

A comunidade de Magé, localizada a 50 quilômetros do Rio, é um quilombo, assentamento fundado por pessoas que escaparam da escravidão e hoje é habitado por brasileiros de ascendência africana que mantêm tradições derivadas de suas raízes.

“Foi uma luta constante, diária, de tirar o sono”, contou Ana Beatriz Bernardes Nunes, vice-presidente da Associação de Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro, a respeito da batalha para fazer o governo incluir suas comunidades entre os grupos prioritários da vacinação, assim como os povos indígenas.

“Hoje, depois de muitas mortes, estamos vacinando nossa comunidade”, acrescentou ela. Sob um teto de palha montado em um gramado aberto usado para cerimônias religiosas, um médico extraía ampolas de um refrigerador e inoculava o grupo mascarado ali reunido.

Há mais de três mil quilombos espalhados por todo o Brasil, de acordo com a Fundação Cultural Palmares, que divulga a história e a cultura afro-brasileiras. O plano nacional de vacinação estima que existem mais de um milhão de pessoas morando nestas comunidades.

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O Brasil foi o último lugar das Américas a abolir a escravidão, erradicando-a em 1888. Àquela altura, ao menos quatro milhões de pessoas haviam sido levadas da África e forçadas a trabalhar em plantações de cana-de-açúcar e outros setores da economia.

Muitos de seus descendentes nos quilombos ainda vive abaixo da linha da pobreza, tendo dificuldade de acesso a serviços de saúde e ficando particularmente vulneráveis à Covid-19.

A onda mais recente de Covid-19, impulsionada por variantes mais contagiosas do coronavírus, está devastando o Brasil – as mortes diárias passaram de quatro mil pela primeira vez nesta semana. O número total de mortes no país ultrapassa 340 mil, podendo superar o dos Estados Unidos e se tornar o mais alto do mundo, de acordo com alguns especialistas.

O presidente Jair Bolsonaro se opõe a lockdowns, dizendo que a perda de empregos é mais grave do que o vírus, mas recentemente passou a mostrar mais apoio a vacinas.

De acordo com o plano nacional de imunização, o país já vacinou cerca de 12% da população prioritária morando em quilombos, segundo o Ministério da Saúde.

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