Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – O número de usinas do centro-sul com início de moagem antecipada da nova safra de cana-de-açúcar em março será pequeno comparado com o total registrado no mesmo mês de 2021, uma vez que o setor tem estoques de açúcar e etanol, e aguardará o desenvolvimento dos canaviais para obter melhores produtividades, afirmou à Reuters o diretor técnico da Unica.

Após problemas climáticos em 2021, não houve tempo do desenvolvimento de muitas lavouras que poderiam ser colhidas antecipadamente em março, algo que acontece em alguns anos permitindo uma maior moagem antes mesmo do início oficial da safra em 1º de abril.

“Não tem cana pronta para iniciar a safra, provavelmente as empresas estão vendo que a produtividade está baixa, e é muito melhor esperar alguns dias para iniciar a safra do que antecipar a safra com baixa produtividade e com grandes prejuízos”, afirmou Antonio de Padua Rodrigues, responsável por assuntos operacionais na União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).

Mais cedo, ele havia afirmado em nota que “poucas unidades devem iniciar a moagem do ciclo 2022/2023 no mês de março, quando comparado à safra 2021/2022”.

Segundo a Unica, na primeira metade de março apenas dez unidades produtoras operaram, sendo usinas que moem exclusivamente cana, seis de empresas que produzem etanol de milho e três unidades “flex” (cana ou milho).

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Esse número representa um terço das unidades em operação na primeira quinzena ano passado e no mesmo período de 2020.

“Em abril vai começar a safra, as empresas se programam geralmente no final da safra levando em consideração a capacidade de moagem e o aproveitamento de tempo. Em abril volta a ter um número significativo de empresas (em operação), iniciando tanto na primeira quinzena quanto na segunda”, afirmou.

Ele não especificou um número de unidades previstas para abril. Conforme dados da Unica, 147 usinas estavam em operação na primeira quinzena de abril de 2021, enquanto no mesmo período de 2020, quando a safra do centro-sul foi acima de 600 milhões de toneladas, 180 usinas operaram na primeira parte do primeiro mês da safra.

Estimativas recentes de consultores privados apontam um crescimento da nova safra para algo em torno de 560 milhões de toneladas, em recuperação em relação ao ciclo atual (2021/22), finalizado perto de 520 milhões de toneladas, mas distante dos mais de 605 milhões de 2020/21.

ESTOQUES SUFICIENTES

Segundo ele, apesar de a produção se intensificar apenas em abril, os níveis atuais de estoque de açúcar e etanol nas usinas são suficientes para abastecer o mercado neste final da entressafra e em abril.

“As usinas se prepararam, o nível de etanol estocado nas usinas é suficiente para atender o mês de abril, e aí vem a nova safra e repõe os estoques, o setor é o único agente que faz o carrego de estoques. Todo o estoque hoje fica na mão do produtor. Tanto as distribuidoras quanto as revendas trabalham apenas com estoque operacional”, comentou ele, lembrando que no caso do etanol anidro há contratos que garantem a oferta aos distribuidores.

No caso de açúcar, Padua disse que o setor também tem estoque disponível para cumprir os contratos no próximo mês.

“Tem açúcar para embarcar em abril, não tem uma necessidade de ter prejuízo enorme (iniciando antes a colheita), vão fazer um melhor manejo de colheita, e isso sempre vai buscar o melhor resultado em termos de açúcar, ATR (Açúcar Total Recuperável), por hectare”, afirmou.

No penúltima quinzena da safra 2021/2022, a moagem de cana atingiu apenas 142,4 mil toneladas no centro-sul, recuo de mais de 90% ante o volume de 1,68 milhão de toneladas da primeira quinzena de março de 2021.

Mais uma vez, não foi registrada produção de açúcar em uma quinzena, o que vem acontecendo nesta entressafra.


A produção de etanol, por sua vez, atingiu 168,3 milhões de litros na primeira quinzena (-17% na comparação anual), sendo 156,4 milhões fabricados a partir do milho.

As vendas de etanol hidratado no mercado interno pelos produtores alcançaram 632,03 milhões de litros na primeira quinzena de março, com redução de 19,14% sobre o montante apurado neste mesmo período em 2021, segundo a Unica.

Padua disse que “o movimento de recuperação nas vendas de etanol hidratado permanece, pois apesar da retração registrada quando comparado com o ano anterior, o avanço no volume comercializado em relação a segunda quinzena de fevereiro foi de 17,33%”.

(Por Roberto Samora)

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