Em uma região que se aproxima do pico da epidemia de coronavírus, o Uruguai se tornou uma “ave rara”: a curva de contágios está achatada, a letalidade é baixa e o número de pessoas com a doença é cada vez menor.

Com 738 casos detectados, 20 mortos e 579 recuperados da COVID-19 de acordo com os dados oficiais de terça-feira, este pequeno país de 3,4 milhões de habitantes que nunca decretou quarentena geral caminha rumo a uma abertura quase total das atividades.

Isso significa que o vírus vai desaparecer no país? “Em um mundo ideal, sim”, confirma o engenheiro Andrés Ferragut à AFP, antes de esclarecer que o número é dinâmico e se atualiza todos os dias.

“Depende de muitas coisas: da contagiosidade natural do vírus mas também do comportamento da sociedade e das medidas tomadas”, acrescenta.

– Os motivos do sucesso –

Pode haver uma armadilha nos números? O epidemiologista Julio Vignolo, integrante do comitê de especialistas que assessora o governo, garante que não.

“Você poderia me dizer que há subregistro, mas cada vez mais se fazem mais testes. E quem não acredita nos testes, como explica os leitos de CTI (Centros de Tratamento Intensivo) livres? Por que os sistemas de saúde não estão sobrecarregados? Por que não há um aumento das mortes? Isso não se pode ocultar”, disse à AFP.

Para ele, “é um dado da realidade” que a epidemia “está controlada por agora” no Uruguai, considerando a baixa letalidade (2,7%) assim como a diminuição dos casos ativos e novos contágios.

Entre os motivos do êxito, Vignolo aponta para a rapidez da reação.

O Uruguai detectou seus primeiros quatro casos de coronavírus em 13 de março e no mesmo dia o governo declarou emergência de saúde, com a suspensão das aulas e o fechamento de fronteiras nas horas seguintes, entre outras medidas.

Também mencionou o confinamento voluntário da população, que acatou em massa, e as características demográficas do país, com uma baixa densidade populacional e sem grandes cidades.

– “Não cair no triunfalismo” –

Com a chegada do inverno, o Uruguai registra inclusive uma diminuição de outras doenças respiratórias, algo “lógico” considerando as medidas de distanciamento, higiene das mãos e o uso de máscaras adotadas pela população, disse Vignolo.

Mas há aqueles que alertam para um excesso de confiança entre a população, que tem flexibilizado seu confinamento voluntário.

“Não devemos cair no triunfalismo. Isso é dia após dia. Devemos ser prudentes, cautelosos”, enfatiza Vignolo.