Uruguai se despede do popular ex-presidente Pepe Mujica

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Cortejo fúnebre de Pepe Mujica Foto: REUTERS/Andres Cuenca

Centenas de uruguaios acompanham nesta quarta-feira, 14, o cortejo fúnebre com o corpo do ex-presidente José  “Pepe” Mujica, que morreu na terça-feira, 13, aos 89 anos, após lutar contra um câncer.

O presidente do Uruguai, Yamando Orsi, sucessor político de Mujica, acompanha a cerimônia com seus ministros. O cortejo saiu da  sede da Presidência e segue até o Palácio Legislativo, passando por lugares emblemáticos da trajetória política do ex-presidente.

No Congresso, os uruguaios poderão lhe fazer uma última saudação. O governo decretou três dias de luto oficial.

Adepto de um estilo de vida austero, fiel à sua retórica anticonsumista, José Mujica morreu em sua modesta casa nos arredores de Montevidéu, local que havia escolhido, acompanhado de sua esposa e ex-vice-presidente uruguaia, Lucía Topolansky.

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Ela já havia anunciado dias antes que Mujica estava em estágio terminal de um câncer de esôfago diagnosticado em 2024, que havia gerado metástase.

“Sentiremos muita sua falta, ‘Velho’ querido”, escreveu o presidente uruguaio Yamando Orsi na rede social X ao anunciar sua morte.

Despedida dolorosa

A partida do “presidente mais pobre do mundo”, como era frequentemente descrito em manchetes internacionais, desencadeou uma onda de mensagens de líderes latino-americanos e figuras da esquerda internacional.

Lula, seu grande amigo e aliado regional, destacou “sua grandeza humana”.

“A sabedoria de suas palavras formou um verdadeiro canto de unidade e fraternidade para a América Latina”, escreveu o presidente brasileiro em visita de Estado a Pequim.

O petista, que construiu uma relação próxima com Mujica ao longo dos anos, lhe entregou a mais alta condecoração do país em dezembro, em uma cerimônia em Montevidéu, ao lado do presidente colombiano Gustavo Petro.

Lula anunciou que após retornar de Pequim a Brasília, viajará para a capital uruguaia para se despedir.

O presidente chileno Gabriel Boric, que frequentemente expressava sua admiração por ele e o visitou em fevereiro, também não poupou elogios.

“Pepe querido, imagino que você esteja partindo preocupado com a amargura do mundo hoje. Mas se você nos deixou algo, foi a esperança inabalável de que é possível fazer as coisas melhorarem”, disse Boric.

Em tom mais formal, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica tinha divergências, declarou que “a América Latina se despede de um grande homem que dedicou sua vida à militância e à pátria”.

Do outro lado do oceano, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez destacou que o uruguaio acreditava em “um mundo melhor”.

Vida e presidência, fora de roteiro

Durante seu mandato (2010-2015), o ex-guerrilheiro se caracterizou por quebrar o padrão de seus antecessores.

Ao discurso direto, caloroso e sem protocolos, o esquerdista somou reformas e decisões durante seus anos como presidente que marcaram o país de 3,4 milhões de habitantes.

A mais inovadora foi a promover a legalização da maconha com um plano inédito que colocou o Estado no comando de tudo, da produção à comercialização.

Também tomou decisões polêmicas, como receber prisioneiros da Baía de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.

Esse espírito antissistema o tornou, na juventude, um dos líderes da guerrilha urbana Movimento de Liberação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar 13 anos de prisão em condições desumanas nas mãos da ditadura.

Mujica fez campanha pela esquerda até seus últimos dias, sem descuidar da defesa veemente da unidade latino-americana.