A apuração teve início no final da tarde de 02 de outubro. Antes do término da noite dessa mesma data, o Brasil já sabia o resultado da primeira etapa das eleições. Apurados os votos, impossível ignorar a surpresa que tomou conta da sociedade. Qual o motivo? O descompasso entre as pesquisas eleitorais e o resultado das urnas.

Passamos a campanha de primeiro turno com estatísticas que não se confirmaram. No plano nacional, Lula era dado como líder. Afirmava-se que estava com considerável margem sobre o segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro. Para o governo de São Paulo, Fernando Haddad ocupava o primeiro lugar com mais de 10 pontos à frente de Tarcísio de Freitas. Quanto ao governo do Rio de Janeiro, Cláudio Castro não era apontado como potencial vencedor já no primeiro turno. Todas essas tendências se mostraram significativamente distintas da realidade.

O mesmo se deu quanto a vagas para o Senado Federal. Em São Paulo, era tida como certa a eleição do candidato Márcio França, um dos responsáveis pela aproximação entre Geraldo Alckmin e Lula. O ex-governador paulista aparecia com larga vantagem sobre o astronauta Marcos Pontes, representante direto do atual governo federal.

O fracasso da “terceira via” esbarra no fato de a opinião pública seguir fazendo escolhas num cenário bipolar, no qual concorrem o petismo e a união de forças a ele contrárias

Com as urnas abertas, além de atestarmos a imprecisão das pesquisas eleitorais, cujos métodos parecem demandar revisão, constatamos situação fática que precisa ser devidamente analisada e compreendida. É inegável a consolidação do bolsonarismo, bem como a permanência do antipetismo, do lavajatismo e do lulopetismo. Esses fatores reafirmam a polarização observada ao longo dos últimos anos.

Nessa linha, o fracasso da chamada “terceira via” esbarra no fato de a opinião pública seguir fazendo escolhas num cenário bipolar, no qual concorrem o petismo e a união de forças a ele contrárias. O bolsonarismo parece ter sido a mais hábil na personificação do antipetismo, mesmo que não seja a única. Reconheça-se, ainda, que a frente ampla que apoiou Lula no primeiro turno subestimou o alcance eleitoral de determinados setores e movimentos rivais. Daí tanto espanto.

Oferecer alternativa à polarização que domina a eleição atual requer da política atualização e reaproximação dos anseios sociais, reconhecendo-se a legitimidade de alas deliberadamente desconsideradas e desvalorizadas. Desprezá-las, além de arrogância, implica desrespeito a parcela significativa de eleitores. Lembremos que a política é aquilo que factualmente se apresenta, não o que alguém quer que ela seja.