A eleição presidencial acabou. Os brasileiros foram às urnas e materializaram a vontade popular. Ganhou quem obteve mais votos e perdeu quem não atingiu a maioria dos votos válidos. Democraticamente, esse instante é apenas um dos momentos por meio dos quais os cidadãos participam da vida política da Nação. Para além dele, cabe a cada eleitor fiscalizar o exercício dos mandatos por políticos eleitos. Contudo, a baixa racionalidade que marca a política há alguns anos, presente no recente processo eleitoral, caracterizado pelo populismo e pela polarização alimentada pelo ódio, dificulta o curso normal da vida pública no País. Revela-se desafiador resgatar um grau mínimo de urbanidade, para o qual a tolerância é indispensável.

Agressões a figuras públicas têm ocorrido com elevada e preocupante frequência.Em 2017, durante o governo Temer, Miriam Leitão e Alexandre Garcia foram xingados e chamados de golpistas por simpatizantes da ex-presidente Dilma durante voos que partiram de Brasília. Em 2018, o Ministro Ricardo Lewandowski passou por situação semelhante, quando foi alvo de ataques provenientes de críticos da atuação do Supremo Tribunal Federal.

Revela-se desafiador resgatar um grau mínimo de civilidade, para o qual a tolerância é indispensável. Agressões a figuras públicas têm ocorrido com elevada e preocupante frequência

Nas eleições de 2020 e de 2022, enquanto aguardavam na fila para votar, diversos parlamentares foram agredidos, a maioria deles por simpatizantes da Lava Jato e do governo Bolsonaro. Rodrigo Maia foi hostilizado em resort no litoral da Bahia, assim como Randolfe Rodrigues o foi quando regressava da COP27. Regina Duarte, ex-integrante do governo Bolsonaro, foi atacada por militantes de esquerda em evento cultural. O ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro passou por situação semelhante durante a campanha eleitoral. Na Copa do Catar, a lesão de Neymar foi comemorada e Gilberto Gil foi xingado.

O jogador recebeu o ódio nas redes sociais dos radicais de esquerda. O ídolo da MPB foi alvo da hostilidade presencial de radicais de direita.

Esses atos têm sido praticados por indivíduos que apostam no radicalismo como ação política. Orgulham-se dessa prática. Gravam e compartilham vídeos, fomentando suas hordas. Acreditam que a liberdade de expressão é garantia para pública e impunemente agredir e constranger pessoas, ignorando os tipos penais que tutelam a honra e o dever civil de reparação de danos morais. Governo e sociedade precisam pacificar o Brasil, sob pena de normalizarmos a execração como método político. Autoridades públicas devem dar bons exemplos, repudiando tais condutas. Urbanidade já!