Achille Bonito Oliva, o crítico italiano que se celebrizou ao detectar o movimento pictórico que surgiu no começo dos anos 1980 em contraste à Arte Povera, cunhando-o de Transvanguarda, talvez encontre no artista brasileiro Antonio Dias uma síntese entre aqueles dois polos. Em texto publicado na monografia recém lançada pela APC, Bonito Oliva parece reconhecer na obra de Dias uma afinidade entre a forma plástica e a matéria mundana. “A geração de Antonio Dias se afirma em uma zona neutra entre arte e vida, entre a forma e o orgânico, fazendo-se representar diretamente por fragmentos do mundo, recuperados e imersos na dimensão da arte”, escreve.

Lançado concomitantemente nos Brasil e nos EUA pelo braço editorial da Galeria Nara Roesler, editado a quatro mãos por Antonio Dias e Alexandra Garcia, o livro compreende de forma bastante conclusiva a profusão experimental de mais de cinco décadas de carreira do artista.

Os fios condutores entre os projetos em vídeo, em som e performance dos anos 1960 até as composições sobre chapa metálica e as colagens em papéis nepaleses, dos anos 2000, passando pela pintura pop dos 1970, são traçados pelos textos críticos de Paulo Sergio Duarte e Bonito Oliva.

Mas talvez um sinal permanente de sua obra já tenha sido detectado precocemente pelo escritor Haroldo de Campos, em 1970, quando dedicou ao artista o poema “Constelário para Antonio Dias”. O “universo univermelho” que atravessa toda a obra do artista nascido em Campina Grande, na Paraíba, em 1944, e hoje residente entre o Brasil e a Italia, é anunciado na tinta vermelha que Haroldo usa para teclar as palavras “monumentos”, “momentos”, “mementos”. Há de fato um vermelho fálico que permanece como farol de toda a obra. A começar pela obra “Biografia para Solange” (1965), que estampa a capa do livro, seguida da bandeira da instalação “Estudo para o País Inventado/ Dias-de-Deus-Dará (1976), na primeira guarda.

A publicação faz parte de uma estratégia de internacionalização dos artistas representados pela galeria Nara Roesler e antecipa a mostra individual de Antonio Dias, que será montada no Philadelphia Museum, em 2017. PA