Universidades dos EUA denunciam clima de medo sob Trump em julgamento pela liberdade de expressão

Professores de universidades dos Estados Unidos descreveram, nesta segunda-feira (7), o clima de medo gerado pela política do presidente Donald Trump após a expulsão de estudantes estrangeiros pró-palestinos, no primeiro dia de um julgamento simbólico em um tribunal federal, movido por associações de defesa da liberdade de expressão.

No julgamento, que durará duas semanas em Boston, associações de professores, especialmente da Universidade de Harvard, pedem aos tribunais que reconheçam que o governo americano aplicou uma “política de expulsões baseada em ideologia”, contrária à primeira emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão.

Também pedem ao juiz William G. Young, um magistrado indicado pelo ex-presidente republicano Ronald Reagan, que proíba essa política, apesar de a administração Trump negar sua existência.

Para os autores da ação, as detenções de estudantes estrangeiros com vistas à deportação, como a do ativista pró-palestino da Universidade de Columbia, em Nova York, Mahmoud Khalil, ou da aluna turca Rumeyza Ozturk, têm como objetivo silenciar aqueles que se opõem à guerra de Israel em Gaza e defendem os palestinos, enfraquecendo o debate público.

Nadje Al Ali, professora de antropologia e estudos sobre o Oriente Médio na Universidade de Brown, que possui permissão de residência, contou que desistiu de ministrar palestras em Beirute, quando estava na Europa, por medo de ser detida ao retornar aos Estados Unidos.

“Tinha medo de ser interrogada, de que buscassem meu nome no Google e encontrassem alegações contra meu centro [de estudos] e contra mim, associando-me a um discurso pró-palestino. Ou pior ainda: frequentemente hoje em dia isso é transformado em antissemitismo e apoio ao Hamas”, relatou essa acadêmica alemã de origem iraquiana.

A professora, uma das várias testemunhas que devem subir ao banco, também afirmou que desistiu de protestar contra a política do governo do republicano Trump porque tem medo de ser “marcada”.

Durante o julgamento, o governo americano pretende demonstrar que se limitou a aplicar as leis existentes sobre imigração, autorização de vistos ou permissões de residência.

No caso de Mahmoud Khalil, nascido na Síria de pais palestinos, o governo alega que sua presença em solo americano implica “consequências potencialmente sérias para a política externa” dos Estados Unidos e o acusa de apoiar o movimento islamista Hamas.

“Este caso constitui uma prova extremamente importante para a primeira emenda em um momento em que precisamos mais do que nunca de sua proteção”, declarou o Knight First Amendment Institute da Universidade de Columbia, um dos centros que apoia a denúncia.

Segundo este instituto, trata-se do primeiro julgamento sobre liberdade de expressão desde o retorno ao poder de Trump.

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