Políticos unionistas e republicanos da Irlanda do Norte condenaram nesta quinta-feira (8) a violência “completamente inaceitável e injustificável” registrada nos últimos dias nesta província britânica, onde crescem as tensões exacerbadas pelo Brexit.

O conflito aumenta na região desde a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), cujas consequências provocaram um sentimento de traição entre os unionistas apegados à coroa britânica.

As tensões provocaram uma semana de distúrbios, com o uso de projéteis e o incêndio de veículos, principalmente nas zonas de maioria protestante.

Os incidentes reavivaram o fantasma das três décadas de conflito violento entre republicanos católicos e unionistas protestantes, que deixaram quase 3.500 mortos até a assinatura do acordo de paz em 1998.

“A destruição, a violência e as ameaças são completamente inaceitáveis e injustificáveis, independentemente das preocupações que existam nas comunidades”, afirmou o governo autônomo norte-irlandês – constituído por unionistas, republicanos e centristas -, que se declarou “gravemente preocupado”.

“Apesar de nossas posições políticas muito diferentes em vários temas, todos estamos unidos em nosso apoio à lei e à ordem”, completaram.

– Moção de condenação –

O Parlamento regional da Irlanda do Norte interrompeu o recesso da Semana Santa para uma sessão especial, durante a qual os deputados aprovaram uma moção de condenação à violência.

“Os responsáveis devem ser submetidos a todo rigor da lei, porque todos devem ser iguais perante a lei”, escreveu no Twitter a primeira-ministra de Irlanda do Norte, a unionista Arlene Foster.

A violência “não se exerce em nome das pessoas que vivem nas zonas unionistas”, disse ela depois aos deputados.

Denunciando uma “perigosa escalada”, sua vice-primeira-ministra Michelle O’Neill, do republicano Sinn Fein – ex-braço político do IRA -, acusou os grupos paramilitares unionistas de incitarem os jovens adolescentes a enfrentar a polícia.

E a ministra da Justiça, Naomi Long, do centrista Partido da Aliança, denunciou as promessas não cumpridas do governo britânico sobre o Brexit, afirmando sentir “simpatia pelas pessoas daqui que se sentem traídas”.

– Sem precedentes em vários anos –

A quarta-feira foi a sexta noite consecutiva de violência, o que demonstra o crescente conflito existente na região.

Quase 600 pessoas se reuniram em Lanark Way, uma área da zona oeste de Belfast onde foram instaladas grandes barreiras de metal para separar um bairro católico de outro protestante.

Vários veículos foram incendiados, incluindo um ônibus. Integrantes das duas comunidades atiraram coquetéis molotov.

A semana de distúrbios deixou 55 policiais feridos, além de um repórter fotográfico e um motorista de ônibus.

Para o vice-comandante da polícia norte-irlandesa, Jonathan Roberts, a escala e a natureza da violência não tem precedentes nos últimos anos.

Ele disse que adolescentes de até 13 anos participaram dos ataques, estimulados por adultos, e que o grande volume de bombas incendiárias sugere um “planejamento prévio”.

“O fato de ser violência sectária e a presença de grandes grupos nos dois lados (…) é algo que não víamos há anos”, disse.

– Londres e Dublin pedem diálogo –

O acordo de paz assinado em 1998 acabou com a fronteira entre a província britânica e a vizinha República da Irlanda – país-membro da UE -, mas o Brexit abalou o delicado equilíbrio.

Após duras negociações, Londres e Bruxelas alcançaram uma solução, conhecida como “protocolo da Irlanda do Norte”, que evita o retorno de uma fronteira física na ilha da Irlanda e transfere os controles para o mar da Irlanda, entre a província e a ilha da Grã-Bretanha.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou no Twitter que está “profundamente preocupado”.

“A forma de resolver as diferenças é o diálogo, não a violência, ou a criminalidade”, destacou.

O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, considerou que “a única maneira de avançar é abordar as questões que preocupam por meios pacíficos e democráticos”.

“Agora é o momento de que os dois governos e os líderes de todas as partes trabalhem juntos para reduzir as tensões e restabelecer a calma”, afirmou.