Os partidos unionista e republicano da Irlanda do Norte chegaram a um acordo nesta quinta-feira (17) para manter a governança compartilhada, evitando, assim, uma nova crise política nesta região britânica abalada pelas tensões pós-Brexit.
O acordo entre o Partido Unionista Democrático (DUP) e o Sinn Fein, as principais legendas norte-irlandesas, foi alcançado pouco depois da meia-noite, após intensas conversas lideradas pelo ministro britânico para a Irlanda do Norte, Brandon Lewis.
Isso “permitirá ao governo voltar a se concentrar nas questões que realmente importam para os norte-irlandeses, como atenção à saúde, habitação, educação e emprego”, afirmou.
O unionista Paul Givan, de 39 anos, um protestante fundamentalista, será nomeado primeiro-ministro do governo regional nesta quinta-feira. Já a republicana Michelle O’Neill, de 44, segue como vice-primeira-ministra.
Os partidos estavam paralisados devido a um projeto de legislação regional para deixar a língua irlandesa em pé de igualdade com o inglês, algo que o Sinn Fein acusava o DUP de querer impedir.
O bloqueio foi rompido pelo compromisso do governo britânico de legislar sobre o assunto no outono boreal (primavera no Brasil), se até lá isso não tiver sido feito em nível regional.
As desavenças entre os dois lados – que devem dividir o poder em função do acordo de paz de 1998 – deixaram a Irlanda do Norte sem um Executivo e Parlamento regionais de 2017 a 2020.
Um acordo firmado em janeiro de 2020 restaurou as instituições políticas da Irlanda do Norte. Em abril, no entanto, a primeira-ministra e líder do DUP, Arlene Foster, anunciou sua renúncia de ambos os cargos diante do forte descontentamento em suas fileiras com as consequências do Brexit.
Este impacto está no centro de mais um conflito entre o governo britânico e a União Europeia (UE).
Denunciando uma abordagem “purista” da UE, Londres quer uma aplicação mais flexível do acordo do Brexit na Irlanda do Norte, enquanto Bruxelas pede que os compromissos firmados sejam respeitados.
O governo britânico está especialmente preocupado com a entrada em vigor, em julho, do regulamento que impede o envio de carne refrigerada para a Irlanda do Norte, na denominada “guerra das salsichas”.
Em vigor desde 1º de janeiro, o protocolo para a Irlanda do Norte, negociado como uma parte do acordo do Brexit, mantém “de fato” esta província britânica no mercado único e ba união aduaneira europeia de mercadorias, prevendo controles alfandegários sobre os produtos que chegam procedentes da Grã-Bretanha.
O objetivo é evitar controles entre a província e a República da Irlanda no sul e, com isso, contornar o restabelecimento de uma fronteira formal entre os dois territórios.
Isso poderia comprometer a paz na Irlanda do Norte, depois de três décadas de violência. Ao mesmo tempo, as medidas perturbam o comércio e revoltam os unionistas, que defendem manter a província dentro do Reino Unido.