Com o primeiro derby de Berlim na Bundesliga, os fãs de futebol da capital alemã viverão um dia histórico no sábado, quando ou será renovada a eterna rivalidade esportiva ou dominará o espírito fraternal da Reunificação.

“Será uma partida muito especial, ainda mais por acontecer 30 anos depois da queda do Muro”, disse à AFP Elmar Werner, de 65 anos e torcedor desde 1979 do Union, clube da Berlim Oriental, cujas arquibancadas recebiam na época vários opositores do regime comunista.

Já o Hertha é o grande clube da Berlim Ocidental, e sua história é muito diferente.

A história do Berlim não se parece com a do Liverpool, Glasgow, Sevilla ou Roma, cidades europeias que contam com dérbis especialmente tensos e emblemáticos.

“Não temos nada contra o Hertha”, avalia Elmar Werder, para quem esta partida é “uma bonita oportunidade para a unidade”.

Outro torcedor histórico do Union de Berlim, Andreas Cramer (60 anos), endossa essas palavras: “Naquele tempo, alguns torcedores do Union até torciam pelo Hertha, principalmente quando jogava nas competições europeias. Mas quando o Muro caiu nos tornamos competidores”.

– Grande festa –

Os torcedores mais velhos lembram do primeiro jogo entre as duas equipes, um amistoso em janeiro de 1990 que acabou virando uma festa popular, dois meses e meio depois da queda do Muro.

As duas equipes se enfrentaram depois em quatro oportunidades, todas elas na segunda divisão (temporadas 2010-2011 e 2012-2013).

Berlim Oriental teve sua dose de rivalidade futebolística e política com os duelos do Union e o Dinamo, a equipe apoiada pela Stasi, a polícia secreta do regime da República Democrática Alemã (RDA).

Nos dérbis contra o Dinamo (que agora está na quarta divisão), a torcida do Union costumava gritar “O Muro tem que desaparecer!” quando os jogadores adversários formavam uma barreira nas faltas.

Trinta anos depois, os torcedores de Hertha e Union, que durante os anos da divisão confraternizaram tanto, se perguntam como será essa nova rivalidade nos próximos anos.

“Fiquei muito feliz quando subiram para a primeira divisão” no final da última temporada, conta Manon Düring, uma torcedora do Hertha de 55 anos.

“Cresci com o Muro, Berlim tem muito a oferecer, mas a cidade precisa de uma cultura futebolística forte. É uma chance para que a gente se livre dessa divisão política Leste-Oeste e de unificar a cidade”, acrescenta ela.

– Torcedores voluntários –

“Não acredito que o derby vá se transformar em algo pesado”, diz Daniel Rossbach, de 29 anos e torcedor do Union. “Mas haverá rivalidade”, aponta.

Para Timo Dobbert, um torcedor do Hertha, temos a chance de criar uma cultura diferente, como Berlim tem feito em outros campos que vão além do esporte: “Acho que seria formidável se Berlim se tornasse a única cidade da Europa onde os clubes da primeira divisão e seus torcedores são solidários entre eles”.

“Berlim, o Hertha e o Union, poderão se tornar o símbolo vivo da história desta cidade, que ficou dividida e depois se reunificou. Algo que a gente não vê em outro lugar”, sentencia.

A partida de sábado será disputada no pequeno e pitoresco estádio do Union, o Alten Försterei, onde os 22.000 espectadores são conhecidos por seu entusiasmo e o barulho que produzem.

Além disso, o estádio pertence de certa forma aos torcedores, já que eles acumularam 140.000 horas de trabalho voluntário para sua reconstrução na temporada de 2008-2009.

O futuro do derby dependerá também do Union de Berlim, que está na parte baixa da tabela e que terá que lutar para continuar na elite.

Três décadas depois da queda do Muro, o pequeno clube é o único dos que existiam na extinta Alemanha Oriental a jogar na primeira divisão. Outros dois sobrevivem na segunda divisão: o Dynamo Dresden e o Aue.

Os outros caíram para divisões inferiores, prejudicados pela falta de uma estrutura econômica de apoio e sem capacidade para reter seus melhores jogadores.

O RB Leipzig é uma exceção. Foi fundado 20 anos depois da queda do Muro em uma cidade que ficava na Alemanha Oriental, impulsionado pelo dinheiro da multinacional Red Bull.

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