“Quem vem pra São Paulo, meu bem, jamais se esquece. Não tem intervalo, tudo depressa acontece”, cantam Itamar Assumpção e Rita Lee no sistema de som. Ali, sentado em um banco, um homem anota informações sobre imigrantes cujas trajetórias, assim como a dele, passam por aquele lugar: uma antiga hospedaria transformada em museu.

A atividade era parte da última edição do Português pela Cidade, realizada no Museu da Imigração, zona leste, no fim do mês passado. O projeto dá aulas de português para estrangeiros em quatro roteiros históricos pela capital paulista, ao custo de R$ 65.

A iniciativa foi criada no ano passado pelas professoras de Português Josefina Lopes Simões, de 37 anos, e Paola Mandalá, de 42, que já tinham experiência de ensino para estrangeiros. Com limite de oito participantes, a aula reuniu oriundos de Bangladesh, do Egito, dos Estados Unidos, do Chile e da Venezuela na última edição.

“A ideia é unir turismo com o aprendizado de Língua Portuguesa. A gente não coloca os participantes para preencher tabela de verbos, essas coisas”, explica Paola. “As atividades que a gente propõe são sempre usando a língua para resolver uma tarefa, que geralmente é buscar alguma informação.”

Na última aula, os participantes se reuniram para ouvir sobre as raízes de São Paulo no pátio do museu. Eles se debruçaram sobre um mapa da cidade, enquanto as professoras explicavam sobre as comunidades indígenas que viveram nas regiões centrais e deram origem ao nome de bairros e distritos (como a Mooca).

O grupo se dirigiu, então, à maquete da antiga Hospedaria do Brás, hoje sede do museu, momento em que as professoras comentaram sobre o programa estatal que trazia estrangeiros e migrantes para trabalhar em fazendas brasileiras. “Todo mundo entende a palavra escravidão?”, indagou Paola.

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Após uma introdução, as professoras entregaram uma tarefa para cada aluno, cuja resposta deveria ser procurada em uma espécie de “caça ao tesouro”. “Por que a hospedaria foi construída aqui?”, “Quais eram as nacionalidades dos imigrantes que passaram por essa casa” e “Para onde os imigrantes eram levados?”, estavam entre as questões.

O doutorando em Antropologia Joe Coyle, americano de 34 anos, estava entre os participantes. “Vim para discutir em Português e aprender mais sobre o País, sobre questões sociais que têm relevância”, explicou à reportagem.

Também doutoranda (em Arquitetura), a chilena Adriana Marín, de 32 anos, comentou que antes estranhava a necessidade de assinalar a raça do entrevistado sempre que fazia uma pesquisa acadêmica. “Percebi isso, mas agora entendi melhor o porquê”, comentou ao abordar o racismo no Brasil, presente de outras formas no Chile.

Proposta

Os roteiros do projeto são elaborados ao longo de um semestre após visitas aos espaços e levantamento bibliográfico. “A preocupação que a gente tem com os nossos alunos é que explorem a cidade além daquilo que é muito comercial, muito turístico”, diz Paola. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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