Que o Brasil possui uma vocação nítida para o fracasso, só os tolos ou idiotamente patriotas não reconhecem. Somos a prova viva de que “pau que nasce torto não conserta jamais”. Se o contrário, aguardo argumentos.

Porém, nossa vocação para o fracasso abarca também uma vocação macabra. Por algum motivo, nossa relação com a morte – ou com a vida, tanto faz – está umbilicalmente atrelada ao pouco caso, à indiferença.

Dentre as dez ou quinze maiores economias do mundo, nenhuma despreza tanto a existência humana como o Brasil. Nós nos acostumamos, há décadas, com assassinato, latrocínio e toda sorte de crimes contra a vida.

Pouco nos importa a idade das vítimas ou o grau de crueldade a que foram submetidas. Por aqui, morre-se como moscas e “nem te ligo farinha de trigo”. Enchentes, incêndios em boates, bêbados ao volante, tanto faz.

A pandemia do novo coronavírus tinha tudo para se tornar uma tragédia sem precedentes no País, e se tornou. Uniram-se uma população predominantemente desinteressada pelo próximo e um presidente homicida.

Juntos, povo e governo produziram um massacre sob a forma 400 mil vítimas fatais por Covid-19, enlutando mais de 2 milhões de sobreviventes até que eles próprios, talvez, se tornem os próximos na fila da morte.

O Brasil conta com exatos 2.7% dos humanos que habitam este planeta. Porém, sozinhos respondemos por quase 13% dos padecidos pelo vírus. Imaginem agora China ou Índia, com suas populações na casa do bilhão.

Ou mesmo os Estados Unidos, Indonésia, Paquistão e Nigéria, apenas para citar os mais populosos. Se estas nações seguissem nosso exemplo macabro, o mundo estaria com mais de 500 milhões de mortos, contra 3 milhões atuais.

Aliás, se o mundo se espelhasse em nós, 1 bilhão de pessoas teriam superlotado os portões do céu e do inferno. Para a sorte do planeta, porém, não existem muitos Bolsonaros espalhados por aí. Nem muitos brasileiros também.