Cerca de 300 crianças e mulheres foram sequestrados no Haiti por facções criminosas nos primeiros seis meses de 2023, anunciou o Unicef nesta segunda-feira (7), alertando para um “aumento alarmante” de uma prática que deixa “cicatrizes físicas e psicológicas” duradouras.

Estes números são semelhantes aos registrados em todo o ano de 2022 e o triplo dos obtidos em 2021, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que relembra que tanto crianças quanto mulheres estão expostos a uma “violência inimaginável”, em meio a uma guerra de gangues no país caribenho.

“As mulheres e as crianças não são mercadorias. Não são moeda de troca”, alerta o diretor regional para a América Latina e Caribe, Garry Conille, em um comunicado da entidade, acrescentando que “as histórias que ouvimos dos colegas do Unicef e dos nossos parceiros em campo são impactantes e inaceitáveis”.

A tendência crescente de sequestros preocupa as autoridades e é uma “ameaça tanto para os haitianos quando para aqueles que vieram para ajudar”, diz ele, alertando que as vítimas que conseguem voltar para casa enfrentam “profundas cicatrizes físicas e psicológicas” por anos.

“Testemunho a extraordinária resiliência das crianças, mulheres e famílias haitianas, que enfrentam desafios aparentemente intransponíveis e se recusam a desistir”, diz Conille. “No entanto, sua bravura é recebida com um terror cada vez maior e impensável. Isso deve acabar agora”, insiste.

De acordo com o Unicef, a situação do Haiti é “catastrófica”. De 5,2 milhões de pessoas, quase metade da população depende de ajuda humanitária, incluindo cerca de três milhões de menores de idade.

O aumento da violência, saques, bloqueios de estradas e a onipresença de grupos armados são alguns dos problemas que prejudicam gravemente os esforços humanitários, dificultando o auxílio às comunidades afetadas.

Com o sistema de saúde do país à beira do colapso, escolas sob ataque e civis “sob constante terror”, cerca de 80% da capital Porto Príncipe é controlada por gangues.

Além da grave crise humanitária e econômica, o país também vive um impasse político, sem realizar eleições desde 2016.

“Com o passar dos meses, uma camada cada vez maior de medo e de complexidade é adicionada a um ambiente já difícil para aqueles que prestam ajuda vital”, lembra a instituição, que pede urgentemente a libertação e o retorno imediato de todos os sequestrados no Haiti.

af/db/yr/tt