O pernambucano Luciano Bivar tornou-se figura-chave no atual quadro partidário. É responsável pela maior unificação de legendas no Congresso nos últimos anos, ao patrocinar a fusão do PSL e do DEM, recém-aprovada. O União Brasil, que ele preside, tem o maior número de deputados e o maior fundo partidário e eleitoral à disposição, em um montante próximo de R$ 1 bilhão. Agora, ele quer reunir o União Brasil, o PSDB e o MDB por meio de uma federação ou coligação, o que pode mudar o cenário eleitoral para este ano (leia mais à pág. 26). Ele cogita que o candidato presidencial do grupo seja João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) ou alguém do seu partido. Nos bastidores, havia a informação de que Bivar poderia ser o candidato a vice, mas ele diz que pode ser, inclusive, o nome da sua legenda para a cabeça de chapa. Sobre o último pleito, ele afirma que não se arrepende de ter levado o presidente Bolsonaro para o PSL, em 2018. “Era preciso romper o ciclo do PT.”

Como o União Brasil está discutindo com os outros partidos a campanha de 2022?
Está decidido que o União Brasil, o PSDB e o MDB vão ter um candidato único. Pretendemos ter alguém que venha a formatar todos os ideais de centro-direita em cima de uma cultura do liberalismo. É isso que nós discutimos em virtude dos quadros que estão postos na mesa. A capilaridade que esses partidos têm em todo o País vai levar o rosto do nosso presidenciável para todos os recantos do Brasil. É impossível que a gente não esteja no segundo turno. Não sei se será o governador João Doria do PSDB ou se será a senadora Simone Tebet do MDB. Cada partido irá indicar um nome e em um determinado momento vai se escolher um candidato com o compromisso de apoio dos três partidos.

Como fica a discussão do nome do ex-juiz Sergio Moro?
Quem entrar nesse bloco precisará aceitar o resultado pelos critérios que serão adotados por esse grupo mais tarde. Se o Sergio Moro estiver disposto a aceitar as condições e critérios do União Brasil, PSDB e MDB, ele pode ser o candidato pelo Podemos ou qualquer outra legenda que ele venha a se filiar.

Por conta da sua capacidade de articulação, o seu nome é cogitado para ser o vice na chapa?
Não necessariamente para vice. O que eu imagino é que teremos uma candidatura única da terceira via com os todos os partidos que queiram se aglutinar ao bloco que já conversa [União, PSDB, Cidadania e MDB], independentemente de cargo. O meu nome é um dos que estão colocados à Presidência, pelo União Brasil.

Existe a possibilidade do União Brasil participar de uma federação com outros partidos?
Existe conversa com o MDB e PSDB. O PSDB já concluiu a federação com o Cidadania. Nenhum dos partidos vai querer atropelar suas regionais. Ouviremos todos os diretórios e todos os candidatos. Essa federação só acontecerá pelo convencimento de uma grande maioria. Acho complexa a execução, mas quero reafirmar que se for inviável a construção da federação, nós estaremos juntos numa candidatura majoritária. Vamos oferecer para o País uma alternativa aos conservadores ou aos socialistas.

O União Brasil nasce com o maior fundo eleitoral do País: R$ 776 milhões. Isso vai atrair mais candidatos para sigla?
Na verdade, nesse primeiro momento, o União Brasil vai perder alguns parlamentares. Na fusão, o deputado pode sair, mas não pode entrar em um novo. Em março é que vão ser compensadas essas perdas. Acredito que a janela partidária vai acertar isso.

O senador Flávio Bolsonaro disse que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, seria candidata a vice com Bolsonaro pelo União Brasil. Existe alguma negociação nesse sentido?
O Flávio é um senador muito competente e suas opiniões merecem consideração. Entretanto, o que ele fala é dentro de um quadro da Tereza Cristina permanecer dentro no União Brasil, coisa que eu não sei se vai acontecer com a fusão finalizada e o ingresso de novos quadros no partido. Se ela permanecer e quiser discutir que participação teremos nessa ou naquela chapa, é um nome considerável e de respeitabilidade que podemos apreciar. Não teríamos problema nenhum.

Mas pode ser em uma chapa com Bolsonaro?
Com o Bolsonaro não. O que eu quero dizer é que quem estiver filiado ao União Brasil pode, sim, pleitear a candidatura a Presidência.

Como vai ficar a situação dos parlamentares bolsonaristas que estão na legenda?
Olha, eu não recebi nenhum comunicado oficial. Com a fusão, eles já podem deixar o partido. Enquanto não comunicarem à direção que houve a filiação a outra sigla, a gente fica na expectativa de permanência deles.

Qual a meta de eleição de governadores e senadores na próxima eleição pelo União Brasil?
Temos cerca de 14 candidatos a governador. Também um número significativo de candidatos ao Senado, por volta de 18. E mais os candidatos a deputados federais. Hoje, o União Brasil é o partido que tem candidatos em todas as unidades da federação. Vamos ter uma chapa competitiva para o Congresso. Pretendemos eleger em torno de 70 deputados federais e pelo menos seis governadores.

Qual o maior problema que o Brasil precisa enfrentar?
Tirando a questão da corrupção, eu não tenho dúvida de que é voltar a ter uma política voltada ao livre mercado. Tanto os socialistas como os conservadores defendem a mesma coisa: a intervenção do Estado na economia. Nós liberais somos avessos a isso. Essa é a grande convergência que vai trazer o candidato da terceira via em 2022.

O próximo presidente vai administrar um País melhor ou pior do que estava na eleição de 2018?
Posso garantir que qualquer um vai administrar melhor. Não é só a questão de ter mais recursos ou mais dívidas. É considerar que a gestão será direcionada para que a gente possa desenvolver melhor o País. Certamente vai estar melhor. O liberalismo proporciona igualdade de oportunidades para todos. A responsabilidade individual, a cooperação entre instituições a competição empresarial devem ser permanentes e essa é a revolução pacífica que nós queremos para um País rico e próspero. Já socialistas e conservadores apoiam o protecionismo, a reserva de mercado. Os liberais, ao contrário, pregam o fim dos privilégios. Enquanto inúmeros empresários solicitam que o Estado proteja a iniciativa privada, os liberais defendem a soberania do consumidor. Essa é a grande diferença no sentido ideológico que vamos tratar.

A crise social com desemprego e fome tem solução?
Sim, nós temos um projeto de simplificação tributária. Queremos que o Estado deixe que as pessoas produzam. A pandemia deixou claro que os problemas sociais precisam de ajuda do Estado, mas não é possível que os programas sociais extrapolem aquilo que o Estado produz. Somos favoráveis e vamos brigar muito por um Estado em que a educação seja absolutamente gratuita, a Saúde pública seja gratuita e que funcione, e não como é hoje. A gente entende que para diminuir a desigualdade é preciso ter igualdade de oportunidade para todos. Que todos tenham direito de estudar no mesmo colégio e à mesma segurança pública.

O ministro da Economia Paulo Guedes foi uma escolha acertada do presidente?
Não. Paulo Guedes não teve perspicácia para interpretar a realidade social. Ele desprezou os fatos e foi tolhido pela política populista do governo. Ao invés de privatizar, ele acabou estatizando. Inverteu totalmente o discurso e está imobilizado pelo fisiologismo do governo. Eu não consigo afirmar se ele foi apenas amordaçado ou se foi uma coisa proposital, mas todo o mercado financeiro se decepcionou com essa política econômica.

O que o senhor pensa do teto de gastos?
Todo governo precisa ter uma responsabilidade fiscal. Não é possível gastar mais para atender objetivos eleitoreiros ou outros mais. O orçamento do governo é variável de acordo com o resultado do ano anterior. A solução é pensar em como aumentar a arrecadação, que talvez seja inexpressiva diante daquilo que o País produz.

A Covid revelou políticos que negam a ciência?
Dizer que a vacina não funciona é um negacionismo total. A história já mostrou que muitas pessoas, crianças especialmente, foram salvas por uso de vacinas para diferentes doenças. O negacionismo é muito mais ideológico do que de contestação científica. O chefe da nação não se vacinou, isso não é um evento saudável. Ele deveria ter se vacinado, mesmo que tivesse suas convicções pessoais.

O senhor se arrepende de ter abrigado Bolsonaro no seu partido em 2018?
Não me arrependo porque a gente tinha que interromper um Estado em falência causada pelo PT. Havia a evasão de divisas de cunho ideológico, com a construção de metrôs, portos e estradas em outros países, o que não fazia nenhum sentido. Aliado a isso, havia um grupo com privilégios da União e esse processo era muito célere. A eleição de Bolsonaro foi capaz de interromper aquilo que estava calcado há muito tempo. No entanto, o discurso do presidente não foi coerente com o que havia prometido. A gente lamenta, mas de toda a maneira valeu a interrupção.

Na hipótese de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, quem o senhor apoiaria?
Ambos não alcançaram 50% das intenções. As pesquisas mostram que a maioria dos eleitores ainda não escolheu seus candidatos. Se 90% da população já estivesse decidida poderíamos dizer que há uma eleição polarizada, o que não acontece. Então há muito espaço para uma terceira via e acho que essa opção vai estar no segundo turno. Não consigo raciocinar em cima da hipótese de que nós não estejamos no segundo turno.