União Brasil expõe fragilidades em desembarque hesitante do governo Lula

Vinícius Lima/União Brasil
Foto: Vinícius Lima/União Brasil

O desembarque do União Brasil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciado no dia 18 de setembro, transformou-se em um impasse que expõe desajustes internos em um dos principais partidos do “centrão” brasileiro. A saída do ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), deveria ser o principal símbolo do rompimento, mas arrasta-se em meio a negociações de bastidores e declarações ambíguas.

O descompasso ganhou um novo teor desde quinta-feira, 2, quando Sabino declarou “lealdade inabalável” ao presidente, fala proferida ao lado do próprio Lula durante evento em Belém (PA). A postura de ministro desafia abertamente a cúpula partidária e frustra o plano do presidente do União Brasil, Antônio Rueda, de consolidar a sigla como uma força independente com vistas às eleições de 2026.

Sabino na contramão

União Brasil expõe fragilidades em desembarque hesitante do governo Lula

Celso Sabino

A crise entre o partido e o governo foi deflagrada quando a Executiva Nacional do União Brasil oficializou o rompimento com o governo e deu um ultimato de 24 horas para que todos os filiados em cargos no Executivo federal os deixassem, sob pena expulsão do partido. O rompimento acontece após o líder da legenda ser incluído nas investigações da Polícia Federal sobre a Operação Carbono Oculto, que investiga a infiltração do PCC (Primeiro Comando da Capital) nos setores financeiro e de combustíveis.

Celso Sabino chegou a pedir demissão do cargo, mas alegou que ficaria na função até quinta-feira, 2, para acompanhar um evento de entrega de obras para a COP30. Conforme informado pela Folha de S.Paulo, ele negociou diretamente com Rueda prazos adicionais, usando como principal argumento a necessidade de organizar a Conferência das Mudanças Climáticas – que será realizada em 2025 em Belém, seu principal reduto eleitoral.

O clímax do atrito interno ocorreu justamente na quinta-feira, durante a inauguração do Parque Linear da Nova Doca. Ao lado de Lula, Sabino declarou fidelidade ao petista.

“Presidente Lula, o que nós fizemos juntos no Turismo nunca será esquecido. Eu fico muito feliz e honrado de estar hoje aqui, no meu estado do Pará, para lhe dizer: nada, nem um partido político, nem um cargo e nenhuma ambição pessoal vai me afastar desse povo que eu amo e do estado do Pará. Conte comigo, onde quer que eu esteja, para lhe apoiar, para segurar a sua mão, porque reconheço e sei do seu trabalho e tudo que o senhor fez pelo Brasil e pelo Estado do Pará”

A fala foi recebida como um desafio direto à autoridade da cúpula partidária, que viu seu plano de rompimento coletivo não apenas ruir, mas ser publicamente descredibilizado por um dos membros de maior relevância.

União desunida 

União Brasil expõe fragilidades em desembarque hesitante do governo Lula

Presidente do União Brasil, Antonio Rueda

O episódio escancara que o União Brasil, fruto da fusão entre DEM e PSL, apresenta dificuldades de superar as diferenças internas e formar um bloco coeso. A resistência de Sabino não é um ato isolado, mas forja a imagem de um partido sem comando unificado para impor uma decisão tão drástica.

A estratégia de Rueda, que visava demarcar posição e ganhar credibilidade como oposição, pode sinalizar efeito contrário: expôs a incapacidade da cúpula de controlar os próprios filiados, enfraquecendo o partido perante o governo federal e o eleitorado. Analistas políticos, como Dora Kramer, já classificam o movimento como um “desembarque de araque”.

COP30 e eleições de 2026 à vista

Enquanto o União Brasil enfrenta desgaste, para o Palácio do Planalto o cenário é duplamente vantajoso: Lula não apenas mantém um ministro leal, mas também assiste à neutralização de um partido que se articulava para engrossar a oposição. A permanência de Sabino reforça a postura governista de que é possível negociar apoios individuais, minando coesão dos blocos partidários.

Já a COP30 surge como principal capital político de Celso Sabino. Ao se colocar como peça-chave na organização do evento em uma região de conforto eleitoral, o ministro projeta destaque e eleva o custo de uma eventual demissão, tanto para o partido – que hesita em puni-lo – quanto para o próprio governo.

Um eventual prejuízo em relação às fraturas internas recai sobre o projeto de poder do União Brasil para as eleições de 2026. Ao se mostrar incapaz de executar uma decisão de base como o desembarque do governo, o partido compromete sua credibilidade como oposição consistente. A mensagem transmitida ao cenário político é a de um bloco fragmentado, cuja fidelidade é negociável individualmente.

*Estagiário sob supervisão