A União Africana (UA) se reuniu nesta segunda-feira (14) em sua sede em Adis Abeba (Etiópia) para analisar a crise no Níger, país imerso em uma situação incerta após o golpe de Estado de 26 de julho.

Esta reunião ocorre em um momento em que o novo regime militar em Niamey combina mensagens conciliatórias à comunidade internacional com outras de desafio.

“O Conselho de Paz e Segurança da UA reuniu-se para discutir as últimas novidades da situação no Níger e tentar redirecioná-la”, informou esta organização supranacional em sua conta na rede social X (antes chamada Twitter).

A reunião contou com a presença do chefe da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, além de representantes do Níger e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao).

O Níger é capaz de “superar” as sanções impostas contra o governo, afirmou nesta segunda-feira o primeiro-ministro nomeado pelos militares, um dia após o regime denunciar o impacto das medidas no país.

“Acreditamos que, embora este seja um desafio injusto que nos foi imposto, devemos ser capazes de superá-lo. E vamos fazer isto”, afirmou Ali Mahaman Lamine Zeine em uma entrevista ao grupo de comunicação alemão Deutsche Welle.

A Cedeao suspendeu as transações financeiras e o fornecimento de energia elétrica ao país alguns dias após o golpe.

O bloco, que não descartou utilizar a força para restabelecer o mandato do presidente derrubado Mohamed Bazoum, fechou as fronteiras com o Níger, o que bloqueou as importações do país, que não tem saída para o mar e depende economicamente das nações vizinhas.

Níger, com 25 milhões de habitantes, está entre os países mais pobres do mundo e era um dos últimos aliados do Ocidente na região do Sahel, onde atuam muitos grupos jihadistas.

Os militares no poder denunciaram no domingo que as sanções dificultam o acesso da população a medicamentos, alimentos e à energia elétrica. Eles chamaram as medidas de “ilegais, desumanas e humilhantes”.

– Via diplomática? –

Na entrevista, Zeine, formado em Economia, também citou a visita de uma delegação de religiosos muçulmanos da Nigéria a Niamey no fim de semana.

A viagem da missão de mediação buscou “apaziguar as tensões” criadas pela possibilidade de uma intervenção da Cedeao, informou uma fonte à AFP.

“Temos um grande interesse em preservar esta importante e histórica relação e em garantir que a Cedeao trabalhe, em primeiro lugar, em questões puramente econômicas”, afirmou Zeine.

“Se constatarmos que os princípios políticos e militares prevalecem sobre a solidariedade econômica, isto seria muito lamentável”, advertiu.

Os líderes muçulmanos visitaram Niamey com a aprovação do presidente da Nigéria, Bola Tinubu, que também coordena o bloco regional do oeste africano.

Após o encontro, o xeque Bala Lau, líder da missão, afirmou em um comunicado que o general Abdourahamane Tiani, principal nome do novo regime nigerino, se mostrou disposto a “explorar a via diplomática e a paz para solucionar” a crise.

Tiani “afirmou que o golpe foi bem-intencionado” e aconteceu “para afastar uma ameaça iminente que teria afetado” tanto a Nigéria como o Níger, segundo Lau.

– “Alta traição” –

Poucas horas depois do encontro, no entanto, os militares anunciaram a intenção de processar o presidente deposto por “alta traição”.

Bazoum, de 63 anos, está detido na residência presidencial ao lado da mulher e do filho desde o golpe. Os militares também o acusaram de “minar a segurança interna e externa do Níger”.

A Cedeao condenou a vontade do regime de julgar o presidente deposto e considerou como “uma nova provocação”. Os Estados Unidos também expressaram preocupação.

Em 30 de julho, a Cedeao deu um ultimato de sete dias aos militares para o retorno de Bazoum ao poder, sob pena de utilização da força. O prazo terminou, mas os novos governantes do país não recuaram.

Durante uma reunião na quinta-feira, os líderes africanos reafirmaram o desejo de privilegiar a via diplomática, mas também de ordenar a mobilização da “força de espera” da organização.

Vários países da região, no entanto, mostraram suas reservas sobre uma intervenção. Mali e Burkina Faso, também governados por militares, expressaram solidariedade a Niamey.

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