07/12/2018 - 16:18
A reconstituição do acervo do Museu Nacional será “longa, cara e dolorosa”. É dessa forma que Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) aponta para o trabalho que enfrentarão as autoridades nacionais, com o apoio de doadores estrangeiros. Um documento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que, em janeiro, a entidade apresentará a versão final de um plano de recuperação do museu. Mas, em sua introdução, a Unesco deixa claro que não se pode ainda ter certezas sobre o que conseguirá ser recuperado.
No início de setembro, o prédio do museu no Rio de Janeiro foi tomado por chamas, com uma repercussão internacional. Naquele momento, estimou-se que o fogo teria levado à perda de 90% de seu acervo de 20 milhões de peças.
Foi então enviada ao Brasil uma missão da Unesco, com especialistas que chegaram a atuar na recuperação do museu de Bagdá durante a Guerra do Iraque. O objetivo era avaliar a situação e começar a montar um plano de recuperação.
Um primeiro rascunho do projeto foi concluído em Paris e enviado aos diferentes órgãos públicos nacionais e, em janeiro, a Unesco espera publicar o informe completo.
Em sua introdução, porém, a agência da ONU dá a dimensão do trabalho que terá pela frente. O Plano de Ação irá colocar como prioridade “a estabilidade estrutural” e criar uma espécie de abrigo para o prédio do museu. Outra parte do plano é o resgate de artefatos dos escombros e reconstituir as coleções por meio de empréstimos e doações de outros museus espalhados pelo mundo.
O projeto ainda irá desenvolver planos de emergência para outros museus no Brasil. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que uma das preocupações em Paris é de que o Museu Nacional não seja o único a viver o drama do incêndio.
Em dez anos, foram oito os museus, teatros e institutos nacionais de porte histórico que foram vítimas de incêndios.
A percepção é de que, sem um plano completo, o risco é de que o Brasil fique afastado de turnês internacionais de obras de arte ou ignorado em políticas de empréstimos de pinturas ou exposições.
Essa não seria a primeira vez que tal marginalização ocorreria. No final dos anos 70, o incêndio que atingiu o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro destruir centenas de peças e obras de pintores estrangeiros, levando as coleções internacionais a evitar empréstimos de grande porte ao Brasil durante quase 20 anos.
Agora, o documento da Unesco não deixa dúvidas de que a tarefa não será fácil. “Ainda que não esteja claro quantos artefatos do museu poderão ser salvos, o maior desafio para especialistas em patrimônio cultural e autoridades brasileiras será o longo, caro e doloroso trabalho de resgatar, identificar, documentar e eventualmente restaurar os restos das coleções”, alertou.
O informe aponta que mais de onze países já anunciaram sua disposição para ajudar, incluindo a Suíça, Alemanha, Itália, Portugal ou EUA. Eles indicaram que poderão emprestar coleções com itens similares ou “oferecer apoio que vai desde especialistas técnicos à contribuições financeiras”. O governo de Berlim, por exemplo, ofereceu 1 milhão de euros para os trabalhos.
Um mês depois do fogo, foi estimado que a reconstrução do Museu Nacional deverá custar de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões. A avaliação era do diretor da instituição, o paleontólogo Alexander Kellner.