Foi sempre uma fantasia humana – controlar o tempo, viajar no tempo. Talvez tudo isso faça parte de um esforço para alcançar a imortalidade. Com esse objetivo, o homem, pelo menos na ficção, construiu engenhocas. Houve várias versões de A Máquina do Tempo, o livro de H.G. Wells, e claro que ninguém se esquece do DeLorean de Doc/Christopher Lloyd na série De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis. Ao embarcar no carro envenenado, Marty McFly/Michael J. Fox viaja ao passado e, no primeiro exemplar da série, quase se torna namorado da própria mãe, realizando o Complexo de Édipo.

Carros, máquinas. Às vezes, a coisa não funciona e, em A Mosca, de David Cronenberg, o cientista Seth Brundie, vivido por Jeff Goldblum, entra na cabine de teletransporte e, sem perceber, um inseto entra junto com ele. Durante o processo, Brundie acaba se fundindo geneticamente a uma mosca doméstica e se transforma em um inseto assustador.

Máquinas do tempo podem ser objetos de maravilhamento, ou horror. No cinema, tornaram-se ferramentas habituais de narrativas fantásticas. Mas justamente o cinema, contemporâneo da interpretação dos sonhos de Freud, não precisa necessariamente dessas engenhocas. Em Star Wars – Episódio 4: O Império Contra-Ataca, de Irvin Kershner, Mestre Yoda, pendurado naquele galho, num planeta inóspito, ensina Luke Skywalker que se pode mover o mundo só com a imaginação.

No romântico Em Algum Lugar do Passado, de Jeannot Szwarc, com trilha de Rachmaninoff, Christopher Reeve, atraído por uma mulher numa fotografia – a deslumbrante Jane Seymour -, concentra-se tanto que, de repente, só com a força da mente, vai parar na época dela, no passado. No filme Peggy Sue, de Francis Ford Coppola, o passado também espera a personagem de Kathleen Turner. E então pode ser que, na verdade, homens e mulheres, ao viajar no tempo, busquem corrigir suas vidas, para atingir a tal segunda chance. Reeve, de novo, em Superman – O Filme, a versão de Richard Donner, de 1978, como o super-herói, usa todo seu poder para reverter a rotação da Terra e, fazendo o tempo retornar, ele devolve à vida a mulher amada que morreu.

É o grande desafio. O tempo, inexorável, segue seu curso e leva à morte – fim de tudo, ou transformação? O cinema, como máquina, permite à imagem permanecer eternizada, mas, nessa imagem gravada para todo o sempre, está a negação da vida. Na ficção, as máquinas do tempo permitem corrigir, adiar o inevitável. Por isso, serão sempre atraentes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.