As ruidosas brigas internas do PSL cruzaram o planeta e foram parar na China. À revelia da direção do partido, na terça-feira 15 um grupo de 20 deputados governistas, liderados pela deputada Carla Zambeli (PSL-SP), tomou um avião e partiu para o país asiático para uma viagem com tudo pago pelos chineses para conhecer as maravilhas da tecnologia de reconhecimento facial que os chineses queriam lhes vender para uso no combate ao crime. Assim, antes mesmo de tomar posse, a bancada do partido do presidente aceitou o oferecimento de mordomias inerentes ao cargo. Um perigo, já que, como diz o ditado, não existe almoço grátis. O Bonde da China, como passou a ser chamado, repercutiu muito mal no governo. Surpreso, já que não sabia de nada, o presidente Jair Bolsonaro queixou-se da viagem. No seu estilo sincerão, o filósofo Olavo de Carvalho gravou um vídeo em que não poupou a excursão do PSL. Olavo avisou: “E eu sou guru dessa porcaria? Eu não sou guru de merda nenhuma”. E chamou os deputados de “semianalfabetos” e “idiotas”.

Por melhor que seja a tal tecnologia de reconhecimento facial dos chineses, não caberia a nenhum deputado federal definir que ela venha ou não a ser usada na segurança pública. Essa seria uma decisão do governo federal, do Ministério da Justiça, de um gasto eventualmente a ser feito com verbas federais. Ou seja: tratava-se de um lobby do governo da China. Para transformar os deputados do governo em lobbistas também.

Toda essa mordomia despertou a inconformidade de Bolsonaro. O deputado Luciano Bivar, presidente do PSL, tentou contemporizar. “O Olavo perde o amigo, mas não perde a piada. Está aproveitando para mostrar que também mete o pau no governo”. Olavo não estava brincando. Perdia o amigo, mas não fazia piada. Bolsonaro ligou para Bivar e cobrou: “Poxa, Bivar. O pessoal precisa saber que existe uma responsabilidade em ser do PSL, que somos vidraças, que tudo reverbera em cima de nós”.

“E eu sou guru dessa porcaria? Eu não sou guru de merda nenhuma” Olavo de Carvalho, filósofo (Crédito:Divulgação)

Além de Carla Zambelli, estão na China os deputados federais eleitos Luis Miranda, Daniel Silveira, Tio Trutis, Felício Laterça, Bibo Nunes, Charlles Evangelista, Marcelo Freitas, Sargento Gurgel e Aline Sleutjes, assim como a senadora eleita Soraya Thronicke.

Depois da barafunda criada pela excursão, alguns deputados saíram em defesa própria nas redes sociais. Único deputado federal de outra legenda na caravana, o parlamentar brasiliense Luís Miranda explicou que “não procede a informação de que estaria em busca de tecnologia de reconhecimento facial”. Segundo ele, há 15 anos ele tem negócios com empresas chinesas. Ficou pior: Miranda admitiu que se aproveitou de uma viagem oferecida a deputados para tratar de negócios particulares. Resta saber se o sistema chinês reconhece cara de pau, pois se isso for possível os parlamentares do PSL podem ser enquadrados na categoria de venais.

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