Dizem que o cachorro é o melhor amigo do homem. Realmente, não temos como discordar da lealdade e cumplicidade dos pets. Mais do que uma simples companhia, ter um animalzinho pode trazer alegria e vários benefícios, especialmente para a saúde mental. O alerta é feito por várias fontes como a Uerj – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em recente pesquisa, destaca que os problemas psicológicos aumentaram muito durante o isolamento gerado pelo COVID-19. De 1.460 pessoas entrevistadas em 23 Estados brasileiros, os casos de depressão aumentaram 90% em menos de um mês. O stress aumentou 40% e as crises agudas de ansiedade saltaram 71% (de 8,7% para 14,9%).

Esse mundo dos felinos e caninos foi motivo de uma das exposições mais curiosas que tive oportunidade de ver.  O Blanton Museum of Art da Universidade do Texas (Austin-EUA) fez há alguns anos uma grande mostra com 150 obras de pets batizada como “Na Companhia de Cães e Gatos”. Reuniu uma coletânea significativa de artistas de renome como Albrecht Dürer, Jean-Honoré Fragonard, William Blake, Francisco Goya, Paul Gauguin, Takahashi Hiroaki (Shotei), Pablo Picasso, Henri Cartier-Bresson, Edward Hopper, Louise Bourgeois, entre outros. Por meio da arte, mostrou as mudanças de cães e gatos ao longo dos anos e o fascínio humano por eles, apresentando pinturas, desenhos, gravuras, manuscritos medievais e renascentistas, cerâmicas chinesas e pré-colombianas, esculturas egípcias e fotografias.

A exposição tinha como objetivo dar uma compreensão mais profunda de nossas próprias identidades e relacionamentos, conectando todos à uma comunidade global de animais de estimação. Trazia novas perspectivas de animais domésticos, representados como membros da família, caçadores de presas, figuras e símbolos mitológicos, religiosos, políticos e morais. A exposição investigava a importância dos pets por meio de várias lentes, incluindo a antrozoologia (uma nova disciplina que estuda as interações entre humanos e outros animais) e histórias sociais, preocupadas com o bem-estar animal, o desenvolvimento infantil e a caça. A interatividade acontecia por meio de atividades temáticas, filmes, desfiles de cães e oficinas de estudo.

Para prestigiar os pets em tempos de quarentena, selecionei algumas obras que permitem uma verdadeira ‘viagem animal’ pelo mundo das artes:

1 – Pablo Picasso – O pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, dramaturgo e poeta Pablo Picasso amava cães. Tinha o hábito de ‘pegar emprestado’ ou até mesmo roubar os cachorros de seus amigos. Seu pet favorito foi o Lump, um cachorro salsichinha, da raça Teckel. O cãozinho foi amplamente fotografado e serviu de inspiração para diversos desenhos e rascunhos de Picasso. Chegou até a virar um livro ‘Lump: A Dachshund’s Odyssey’. A obra ‘As Meninas’, de Picasso, é uma releitura da obra-prima de Velásquez, mas o pintor espanhol substituiu o cão do quadro original por um desenho de sua raça preferida. Curiosamente, Picasso e Lump morreram praticamente juntos em 1973, com apenas uma semana de intervalo.

2- Pierre-Auguste Renoir (1841 – 1919) – O artista francês amava cães e fez várias pinturas de pets que gostava. Muitas de suas obras, sempre marcadas pela presença de cores fortes e brilhantes, mostravam pets. Um bom exemplo é ‘Tama -The Japanese Dog’, uma pintura de um pequinês-spaniel produzida para seu amigo Henri Cernuschi, um banqueiro e colecionador de arte asiática. A raça era uma das favoritas da família imperial japonesa por ser considerada exótica naquela época. As pinceladas coloridas de fundo são apenas a base para destacar o pelo preto e branco brilhante do animal. Note o nome do cãozinho no canto superior esquerdo da pintura. Tem também uma infinidade de pinturas de cães como Head of a Dog, Portrait of Alfred Bérard with his Dog, Young Woman with a Dog, Madame Reno with a Dog, Luncheon of the Boating party e Jules Le Coer Walking in Fontainbleau Forest with his Dogs.

3 –Charles Burton Barber (1845-1894) – Ele era um pintor inglês que ficou famoso pelas obras de crianças com seus pets. De tanto retratar animais, acabou sendo eleito o melhor pintor de animais da Inglaterra e, por isso, recebeu várias encomendas da Rainha Vitória para retratá-la com seus cães e netos. Barber estudou na Royal Academy de Londres. Suas obras fazem parte da coleção inglesa e estão em grandes museus do mundo. Alguns consideram seu trabalho como excessivamente sentimental, mas sua obra tem qualidade e expressão. Um bom exemplo é Fora da Escola, que mostra uma menininha com seu enorme São Bernardo.

4- Lucian Freud – O artista alemão naturalizado britânico Lucian Freud (1922-2011) era neto de Sigmund Freud. Pintava geralmente pessoas que conhecia, como amigos, família, amores e crianças. Retratava tudo que tivesse a ver com esperança, memória, sensualidade e envolvimento. Suas primeiras pinturas são associadas com o surrealismo e por apresentar pessoas e plantas em posições incomuns. A partir da década de 1950, começou a produzir retratos, geralmente nus. Dizia que gostava de pintar gente de um estilo ‘por acaso’, com o máximo de espontaneidade possível. Muitas vezes inspirou-se em animais e retratou seu Whippet chamado Pluto. Era irônico e gostava de causar polêmica com obras como Pluto e the Batman Sisters. Falava que ficava impressionado com a falta de arrogância e com pragmatismo animal.

5 – Cassius Marcellus Coolidge (1844 –1934) foi um pintor americano que ganhou fama com pinturas de efeito cômico, mostrando cachorros agindo como humanos. Adotou o codinome Kash Koolidge. Produziu uma série de 18 obras retratando cães jogando cartas e em animadas disputas de pôquer, inclusive com dois buldogues trapaceiros. Não tinha grande destaque com suas pinturas até que um dia um quadro seu estimado em 30 mil a 50 mil dólares foi leiloado por mais de meio milhão de dólares pela Sotheby’s. A partir daí, seus dogs ganharam o estrelato.

A coluna de hoje é dedicada aos amantes de pets e à minha irmã, a arquiteta Silvia Consiglio, que adora animais a ponto de se formar em veterinária apenas para cuidar melhor de seus cachorrinhos. Escreva para sugerir um tema ou para contar algo sobre seu artista preferido. Adoro boas histórias! Você pode me encontrar no Instagram Keka Consiglio ou no Twitter.