á se passaram quase 50 anos – 47 – desde que Marlon Brando e Maria Schneider dançaram aquele tango. O viúvo norte-americano exilado em Paris e a jovem que aguenta mais a violência física que o envolvimento emocional. O filme tinha aquele momento único – o monólogo/desabafo de Paul/Brando, em que ele expõe todo o seu abandono -, mas ficou famoso pela cena da manteiga. No Brasil, a censura do regime militar – em 1972 – considerou o filme atentatório à família, à moral e aos bons costumes, e arrolou-o no índex das obras proibidas. Até hoje comenta-se a tal cena, e Maria sempre disse que era uma jovem inexperiente, da qual dois homens adultos, Brando e o diretor Bernardo Bertolucci, teriam se aproveitado. Em nome do realismo de cena, ela teria sido – foi? – realmente brutalizada na cena de sexo anal.

Último Tango em Paris – havia realmente o tango, música de Gato Barbieri – e o filme, um clássico, tem de ser necessariamente citado em qualquer lista que aborde cinema e música, ainda mais nesta quarta, 11, em que se comemora o dia do tango. Os argentinos orgulham-se do tango, como se orgulham de Carlos Gardel, mas o Gardel nasceu na França e o tango também seria originário das docas de Marselha, onde, originalmente, era dançado por dois homens, os chamados ‘apaches’. Quem viu outro clássico, Casque d’Or, de Jacques Becker, sabe que se trata de um gigolô, ou rufião, que explora o trabalho da prostituta. Na Argentina, o tango alcançou seu apogeu, uma dança sensual em que homem e mulher praticamente simulam um intercurso. Sim, o sexo dançado chama-se tango.

Anos antes do Último Tango, houve o primeiro de Bertolucci, dançado, também em Paris, por duas mulheres – Dominique Sanda e Steffania Sandrelli – em O Conformista, adaptado do romance de Alberto Moravia. Existe até uma expressão portenha – tangamente, que define o tango como um modo de ser, um estar no mundo. Sendo uma dança associada ao ‘bas fond’, inspirou inúmeros melodramas. Gardel filmou muito e, na esteira, Hugo Del Carril fez chorar as plateias com Minha Pobre Mãe Querida, e a mãe era interpretada por uma atriz mítica, Emma Gramatica. Sara Montiel? Imaginem se a ‘gran cantante’ espanhola não iria celebrar o tango, para deleite de seu público íbero-americano? Meu Último Tango, de Luís César Amadori, com o francês Maurice Ronet na pele do galã, permitia-lhe cantar hits como Tira-Tira, Nostalgias e Volver. O último, vale lembrar, também foi cantado por Penélope Cruz num belo Alomodóvar – Volver, muito justamente.

O tango, reinventado por Astor Piazzolla na sua reunión cumbre com Gerry Mulligan e no encontro com a poesia de Horacio Ferrer, produziu obras-primas como Balada para Un Loco, Adiós Nonino e Años de Soledad. Esse tango intelectualizado não perdeu nada de sua dramaticidade. Inspirou Sally Potter, a cineasta inglesa de Orlando, que interpretou a si mesma, como uma diretora de meia-idade que vai a Paris – onde mais? – e se envolve com dançarino em Uma Lição de Tango, de 1997. A vida nunca mais é a mesma após o tango. Baz Luhrmann sabe disso e celebrou a transformação no Tango de Roxanne, da obra-prima musical Moulin Rouge, de 2001.

Veja uma seleção de filmes com tango:

O Último Tango em Paris

Casque d’Or

O Conformista

Pobre Mi Madre Querida

Meu Último Tango

Volver

The Tango Lesson

Moulin Rouge!