A reunificação da Alemanha, dividida desde a Segunda Guerra Mundial, foi uma proeza do ex-chanceler Helmut Kohl, que conseguiu superar as dúvidas internas e a preocupação internacional.
Considerado um político provinciano por alguns no microcosmos de Bonn, a capital federal da época, ganhou um novo reconhecimento durante os 11 meses transcorridos entre a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, e a fusão, em 3 de outubro de 1990, da República Federal da Alemanha (RFA), capitalista, e da República Democrática Alemanha (RDA), comunista.
Ao tornar realidade seu sonho de uma Alemanha unida, integrada na Europa e na Otan, ficou conhecido como o “chanceler da reunificação”.
Em 10 de novembro, depois de pronunciar a palavra “reunificação” em um discurso aos berlineses, Kohl recebeu uma sonora apitada da multidão que lhe escutava e que havia aplaudido com entusiasmo um pouco antes o ex-prefeito da cidade e o ex-chanceler social-democrata Willy Brandt.
Entretanto, o chanceler não se deu por vencido e no 28 de dezembro apresentou no parlamento um programa de reunificação de 10 pontos, propondo primeiro a instauração de estruturas de confederação. “Em algumas semanas começa a última década deste século, o século de tanta miséria, de sofrimento e de sangue”, disse.
“Hoje, há sinais promissores que mostram que nos anos 1990 podem ser portadores de mais paz e liberdade na Europa e na Alemanha. É necessário -todo mundo sente isso- dar nossa contribuição, devemos aceitar juntos o desafio da História”, acrescentou.
A União Cristã-Democrata (CDU) de Kohl ganhou as primeiras eleições livres na Alemanha oriental, em 18 de março de 1990, com 40,8% dos votos, um resultado que para o chanceler equivaleria a um plebiscito. A população da RDA acreditava nos efeitos positivos de uma unificação rápida.
Propõe a paridade entre o poderoso Deutschemark ocidental e o Volksmark do leste, uma iniciativa duramente combatida pelo Bundesbank, o Banco Central da RFA, que considera com toda a razão a situação econômica da república comunista muito mais desastrosa do que poderia supor sua classificação de décima potência econômica mundial.
O gesto foi tanto uma medida de solidariedade para os alemães do lado oriental como uma decisão destinada a evitar seu êxodo em massa para o lado ocidental.
“O preço político -e econômico- de uma unificação alemã ainda atrasada teria sido com toda a certeza muito mais alto que o custo financeiro que aceitamos ao optar pela via rápida da reunificação”, escreveu Kohl em 1996, quando o Estado federal já havia pago cerca de 480 bilhões de dólares às regiões da ex-RDA.
“Inclusive se soubesse desses dados [o balanço econômico da RDA] na primavera de 1990, não teria atuado de outra maneira nos principais pontos”, acrescentou.
A promessa de transformar os novos Länder (estados) do leste em “paisagens florescentes” não se cumpriu e a Alemanha ficou durante muito tempo sobrecarregada pelo enorme peso financeiro e social de uma transição brusca.
No exterior, o chanceler também teve que se empenhar para convencer seus aliados, em particular o presidente francês François Mitterrand e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, ambos com muitas reservas sobre a reunificação.
Ele se apoiou, entretanto, na estreita relação que tinha com o presidente dos Estados Unidos George H. W. Bush (pai), e também usou seus laços de confiança com o russo Mijaíl Gorbachov para conseguir que retirasse as tropas soviéticas.
Graças à reunificação, sua “grande obra”, Kohl abandonou a chancelaria em 1998 com a Grande Cruz da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha, com coroa de louros, uma condecoração que até então só o chanceler do pós-guerra, Konrad Adenauer, havia ganho.
Nesse mesmo ano foi recompensado com o título de Cidadão de Honra da Europa, uma condecoração reservada apenas a Jean Monet. E desde o final de sua carreira política, em todo o outono (boreal) o nome do chanceler que reunificou a Alemanha 45 anos depois do nazismo, aparecia nas apostas para o Prêmio Nobel da Paz.