Durante a campanha, o presidente Jair Bolsonaro apresentou como uma de suas bandeiras uma ampla utilização da educação à distância como ferramenta em todos os níveis, do ensino básico ao superior. Quando for executado, o projeto deverá ser financiado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), dono de um dos maiores orçamentos da União, da ordem de R$ 60 bilhões. E quem deverá comandar esse segmento é o empresário Eli Valter Gil Filho, um dos principais empresários no ramo de ensino à distância, dono da empresa Web Aula, já envolvida em contratos suspeitos em governo anteriores. No início de janeiro, ele apresentou-se aos funcionários do FNDE como futuro diretor de Ações Educacionais e lá passou a tomar decisões e encaminhar ações. Embora ainda não tenha sido nomeado, funcionários do FNDE acreditam que se isso acontecer o novo governo pode estar colocando uma raposa cuidando do galinheiro.

Uma das razões que estariam emperrado a nomeação de Eli Valter é a Lei 8.213, que trata de conflitos de interesse na gestão pública. Afinal, a empresa de Eli pode ser beneficiária direta da ampliação do ensino à distância. Embora ainda não tenha sido nomeado, ele já indicou para a diretoria Arcioni Ferreira Viagi. Nos corredores do FNDE, comenta-se que Eli Valter poderá ir para o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep).

O passado condena

Direta ou indiretamente, a relação de Eli Valter com o projeto de ensino à distância complica-se por histórias pregressas das empresas que ele representa. A Web Aula tem ligação com uma empresa de informática de nome Poliedro. Em 2012, a Poliedro foi mencionada em uma investigação da Polícia Federal. Segundo a investigação, deputados do PP discutiram um contrato do Ministério das Cidades para monitorar a rede de computadores da pasta e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A licitação nem havia começado e os deputados já diziam que a Poliedro seria contratada. O ministro na época era o ex-deputado Mário Negromonte (PP-BA), investigado na Operação Lava Jato. As conversas aconteceram no apartamento do então líder do PP, João Pizzolatti (SC). Denunciada a conversa, o contrato acabou cancelado. No passado, a Web Aula teve um contrato de R$ 1,5 milhão com a Transpetro quando a subsidiária da Petrobras era presidida por Sérgio Machado, um dos principais delatores da Lava Jato. ISTOÉ procurou o Ministério da Educação e o FNDE. Não obteve respostas. Faltam muitas mesmo.