19/01/2018 - 18:40
Um dos maiores desafios da história da imprensa dos Estados Unidos tem sido esclarecer o que realmente aconteceu durante a Guerra do Vietnã. Desde o início do conflito que se estendeu de 1955 a 1975 e custou a vida de pelo menos 58 mil soldados americanos (além de mais de 1 milhão de vietnamitas civis e militares), sucessivos presidentes, de Eisenhower a Nixon, passando por JFK e Lyndon Johnson, tentaram abafar as motivações e os métodos usados pelos EUA em sua desastrosa incursão para conter o avanço do comunismo na Ásia. No que dependesse dos ocupantes da Casa Branca, é bem provável que nem o Congresso e nem os cidadãos do país que se orgulha de ser a maior democracia do mundo tivessem amplo conhecimento do que foi o conflito. Ironicamente, a estratégia de manter as duvidosas ações em segredo foi traída por uma decisão de Robert McNamara, que ocupou o cargo de secretário de Defesa dos EUA de 1961 a 1968. Ele encomendou um estudo aprofundado sobre a posição americana na Guerra do Vietnã, enviando até um observador civil para o front de batalha. Os relatórios, com propósito acadêmico, deveriam ser confidenciais, mas o homem encarregado de arquivá-los entendeu que divulgar a verdade era a única forma de por fim à guerra – e assim poupar as vidas de milhares de jovens americanos. A maneira como esses documentos chegaram à imprensa e o impacto de sua publicação nos jornais prendem a plateia do início ao fim do filme “The Post – A Guerra Secreta”, que estreia dia 25 nos cinemas brasileiros.
“A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes” Trecho da decisão da Suprema Corte dos EUA ao absolver os jornais que divulgaram documentos secretos
Batalha
A trama dirigida por Steven Spielberg é uma ode à liberdade de imprensa onde os heróis são os americanos que, mesmo sabendo se beneficiar de sua proximidade do poder, tiveram a coragem de revelar a verdade sem se intimidar com as pressões da Casa Branca, que incluíam até a ameaça de prisão dos donos dos jornais envolvidos na cobertura: “The New York Times” e “The Washington Post”. A narrativa se concentra nos bastidores do diário que leva o nome da capital federal, até então sem relevância nacional. Comandado Katherine Graham (em mais uma atuação de Meryl Streep digna do Oscar), o “Post” passa dificuldades financeiras e seus executivos decidem abrir o capital da empresa por meio de uma oferta pública de ações. É exatamente no meio dessa conturbada situação que o concorrente “Times” publica os primeiros documentos do estudo de McNamara, um amigo próximo de Katy Graham. O que se segue é uma batalha do obstinado Ben Brandlle (Tom Hanks), diretor de redação do “Post”, para publicar o restante da história. A reportagem, que precisou passar por uma batalha interna para ser impressa, acabaria levando a direção do jornal à Suprema Corte. E a decisão proferida pela Justiça americana resume tudo: “A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”.
Jornais nas telas