Um dos maiores desafios da história da imprensa dos Estados Unidos tem sido esclarecer o que realmente aconteceu durante a Guerra do Vietnã. Desde o início do conflito que se estendeu de 1955 a 1975 e custou a vida de pelo menos 58 mil soldados americanos (além de mais de 1 milhão de vietnamitas civis e militares), sucessivos presidentes, de Eisenhower a Nixon, passando por JFK e Lyndon Johnson, tentaram abafar as motivações e os métodos usados pelos EUA em sua desastrosa incursão para conter o avanço do comunismo na Ásia. No que dependesse dos ocupantes da Casa Branca, é bem provável que nem o Congresso e nem os cidadãos do país que se orgulha de ser a maior democracia do mundo tivessem amplo conhecimento do que foi o conflito. Ironicamente, a estratégia de manter as duvidosas ações em segredo foi traída por uma decisão de Robert McNamara, que ocupou o cargo de secretário de Defesa dos EUA de 1961 a 1968. Ele encomendou um estudo aprofundado sobre a posição americana na Guerra do Vietnã, enviando até um observador civil para o front de batalha. Os relatórios, com propósito acadêmico, deveriam ser confidenciais, mas o homem encarregado de arquivá-los entendeu que divulgar a verdade era a única forma de por fim à guerra – e assim poupar as vidas de milhares de jovens americanos. A maneira como esses documentos chegaram à imprensa e o impacto de sua publicação nos jornais prendem a plateia do início ao fim do filme “The Post – A Guerra Secreta”, que estreia dia 25 nos cinemas brasileiros.

CORAGEM Spielberg dirige Tom Hanks no papel do editor Ben Bradlee: enfrentar Nixonsalvou o jornal (Crédito:Divulgação)

“A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes” Trecho da decisão da Suprema Corte dos EUA ao absolver os jornais que divulgaram documentos secretos

Batalha 

A trama dirigida por Steven Spielberg é uma ode à liberdade de imprensa onde os heróis são os americanos que, mesmo sabendo se beneficiar de sua proximidade do poder, tiveram a coragem de revelar a verdade sem se intimidar com as pressões da Casa Branca, que incluíam até a ameaça de prisão dos donos dos jornais envolvidos na cobertura: “The New York Times” e “The Washington Post”. A narrativa se concentra nos bastidores do diário que leva o nome da capital federal, até então sem relevância nacional. Comandado Katherine Graham (em mais uma atuação de Meryl Streep digna do Oscar), o “Post” passa dificuldades financeiras e seus executivos decidem abrir o capital da empresa por meio de uma oferta pública de ações. É exatamente no meio dessa conturbada situação que o concorrente “Times” publica os primeiros documentos do estudo de McNamara, um amigo próximo de Katy Graham. O que se segue é uma batalha do obstinado Ben Brandlle (Tom Hanks), diretor de redação do “Post”, para publicar o restante da história. A reportagem, que precisou passar por uma batalha interna para ser impressa, acabaria levando a direção do jornal à Suprema Corte. E a decisão proferida pela Justiça americana resume tudo: “A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes”.

Jornais nas telas