José Bacharel Filho, 64 anos, é pintor de carro na cidade mineira de Betim. Faz isso há trinta anos, e foi em meio ao trabalho que se sentiu mal: “uma grande fraqueza e forte dormência no lado esquerdo do corpo”, de acordo com suas próprias palavras. Tratava-se de um acidente vascular cerebral (AVC), popularmente chamado de “derrame”. José deu sorte, seu caso não foi fatal. Em situações como essa, para que a pessoa não morra nem herde graves sequelas, é essencial o atendimento médico mais rápido possível — não é sequer urgência, é emergência. Em meia hora ele já estava hospitalizado, com uma artéria do cérebro obstruída, impedindo a circulação normal do sangue. Além do atendimento médico, José deu sorte por contar também com uma novidade na área de interseção da medicina com a tecnologia: um programa de inteligência artificial que vem auxiliando os profissionais de saúde. Trata-se da plataforma RapidAI, que faz com extrema precisão o diagnóstico e fixa o tratamento mais adequado, levando em conta não somente o AVC mas, também, o organismo do paciente como um todo — é como se a RapidAI olhasse não dos pés à cabeça, mas, sim, da cabeça, onde está a obstrução, aos pés da pessoa.

MARCOS NAGELSTEIN (Crédito:MARCOS NAGELSTEIN)

A imagem que ela produz é a mais espetacular ferramenta facilitadora da intervenção médica para desobstrução da artéria. “Saí do hospital andando normalmente”, diz José. A grande novidade e serventia da RapidAI, é, portanto, dar ao profissional a possibilidade de uma avaliação individualizada do doente — individualização que significa, cada vez mais, o avanço da ciência. Alguns hospitais no Brasil já estão equipados com essa plataforma, dentre eles o Albert Einstein, em São Paulo, e o Moinhos de Vento, no Rio Grande do Sul. Graças a essa inovação tecnológica, foram agraciados com a certificação internacional de “excelência no atendimento”. Para Sheila Martins, presidente da World Stroke Organization (WSO) e chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, está-se diante de uma das principais revoluções no atendimento de pessoas que sofrem AVC. Ela explica que, antes, o indivíduo só tinha a chance de evitar a morte e sequelas se chegasse ao hospital em até seis horas após o início dos sintomas. “Com a nova plataforma, os médicos ganharam tempo para salvar o paciente”, diz Sheila. “Agora temos não apenas seis, mas vinte e quatro horas”.