Antes mesmo da decisão final que levou à vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, interlocutores próximos ao Palácio do Planalto já comemoravam. “O governo ganhou”, sintetizou, vibrante, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), protagonista das articulações pelo impeachment e irmão do atual ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Um segundo turno entre Maia e o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), era o melhor dos cenários imaginados por Michel Temer e seus aliados. De um lado, disputava a tradicional elite política da Casa, protagonizada por DEM, PSDB, PSB e PPS. De outro, o chamado centrão testava as forças acumuladas desde a chegada de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao comando da Casa, em fevereiro de 2015, até sua renúncia, no dia 07 de julho deste ano. Venceu quem conseguiu se distanciar mais firmemente da sombra do peemedebista. Por 285 votos a 170, a eleição de Maia uniu as alas à esquerda e à direita do Plenário numa catarse coletiva que entoava, em um só coro, os gritos aliviados de “Fora Cunha”.

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A vitória de Maia tem potencial para colocar um freio no fisiologismo e facilitar a aprovação de medidas estratégicas para o País no Congresso. A expectativa é de que sejam seis meses de tranquilidade, tempo suficiente para que as escaramuças políticas sejam deixadas de lado em nome da criação de uma agenda de consenso destinada a consolidar o necessário ajuste fiscal e propiciar um ambiente favorável às reformas. Ao comentar o resultado, Temer desejou sucesso ao deputado fluminense e disse acreditar que haverá “uma harmonia muito maior, que será útil para o Executivo”. “Governo é Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas, particularmente, no caso do Executivo,você precisa ter apoio substancioso do Legislativo. Se você tem Legislativo em oposição ao Executivo fica difícil”, ponderou o presidente.

Raras foram as vezes em que o governo federal não conseguiu emplacar um aliado na presidência das Casas do Congresso. Salvo a vitória de Cunha, que evidenciou a fragilidade sem precedentes do governo Dilma já no ano passado, o outro único caso semelhante desde a redemocratização foi a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE), em 2005, fruto de um racha na base do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afundado em escândalos de corrupção, o pernambucano renunciou ao posto em menos de um ano e o governo conseguiu eleger Aldo Rebelo (PCdoB-SP), contra o candidato do PFL, hoje DEM.

Onze anos depois, a atuação do PCdoB e boa parte da esquerda contribuiu consideravelmente para a vitória definitiva de Maia. Lançada de última hora, a candidatura de Orlando Silva (PCdoB-SP) no primeiro turno contribuiu para tirar votos do candidato oficial petista, Marcelo Castro (PMDB-PI), terceiro colocado na disputa. No segundo turno, a bancada comunista migrou em peso para a candidatura do filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia. Veio quase que por osmose a maioria da bancada petista, que já tinha recebido o aval de Lula, além de peemedebistas, que por intermédio do pré-candidato à prefeitura do Rio Pedro Paulo já negociavam vantagens com o deputado do DEM. Recém-eleito, Maia fez questão de agradecer nominalmente ao apoio dado por seu “grande amigo” Aldo Rebelo, a Orlando Silva e Carlos Sampaio (PSDB-SP). Até Silvio Costa (PTdoB-PE), fiel escudeiro da presidente afastada Dilma Rousseff, exibia com orgulho o adesivo de Maia colado sobre o terno.

Candidato derrotado, Rosso buscou estabelecer pontes com o concorrente vitorioso antes mesmo do encerramento da disputa. Demonstrou isso ao convidar Maia para um abraço, em nome de um pacto para “recomeçar uma nova Câmara”. O gesto rendeu elogios da parte de Temer, que classificou a atitude de “elegante”. Para o Planalto, a postura do líder do PSD indica que ao menos inicialmente o centrão não deverá trazer maiores dificuldades ao Planalto. Se o novo cenário contribuir para aprovação de projetos essenciais à recuperação da economia, o placar da disputa pelo comando da Câmara não terá sido bom apenas para o governo. Terá como beneficiário precípuo também o País.