A senadora Simone Tebet (MDB) não é nenhuma, como direi?, raridade na política brasileira. Advogada, professora (mestre e doutora) e escritora, ou seja, academicamente bem preparada, trabalhou durante seis anos (1995-2001) na área técnica da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, onde, em seguida, atuou como deputada.

No meio do mandato, concorreu à Prefeitura de Três Lagoas, sua cidade-natal, e não só foi eleita em 2004, como reeleita quatro anos depois. Em 2010 tornou-se vice-governadora e, cumulativamente, secretária de Governo. Simone é filha do falecido senador Ramez Tebet, controverso politicamente e, digamos, judicialmente, pois às voltas com a Justiça.

Durante este período, acumulou um inquérito por desvio de dinheiro público, que prescreveu em 2015, e uma ação de improbidade administrativa em 2016. André Puccinelli, governador de quem foi vice, foi alvo de duas operações policiais por suspeitas de superfaturamento, chegando a ser preso em 2018. Simone não esteve envolvida, diga-se.

Em 2016 foi uma aguerrida defensora jurídica do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Porém, um ano depois, votou a favor de Aécio Neves (PSDB), que havia sido afastado pelo STF, por conta do escândalo com Joesley Batista. Aliás, a JBS foi sua maior doadora na campanha para o Senado, com mais de 1.7 milhão de reais.

Por isso afirmei que não é uma ‘raridade’, já que parte de um clã político e enroscada com o judiciário. Senadora desde 2014, eleita com expressiva votação, ganhou notoriedade ao ‘trombar’ de frente com o senador e colega de partido, Renan Calheiros, na disputa pela Presidência do Senado. Tebet, como mostra o relato acima, é, portanto, do ramo.

EDUARDO LEITE

Bacharel em Direito, e mestrado em Gestão Pública pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), e pela renomada Columbia University, de Nova York, o jovem, de 37 anos, este, sim, é uma raridade na política nacional. É disparado o pré-candidato que eu gostaria de ver na disputa pelo Planalto. Aliás, é para quem eu torço que seja eleito presidente da República.

Leite (PSDB) apresenta carreira sólida e, por que não?, brilhante. Foi assessor e secretário parlamentar em Pelotas, onde nasceu; vereador e presidente da Câmara Municipal; prefeito da cidade e, finalmente, governador do Rio Grande do Sul, quando tirou o estado da UTI e o colocou, ainda doente e grave, na enfermaria das federações quebradas do País.

O rapaz é bem relacionado nacionalmente e internacionalmente; adepto às melhores práticas de ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), ou Governança Ambiental, Social e Corporativa, e não possui uma mancha ética ou mínimo escândalo relacionado à desvio público em seu currículo – isso, sim, uma novidade e tanto!

Se comparado aos dois atuais favoritos, Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, e Lula da Silva, o meliante de São Bernardo, Eduardo Leite é simplesmente espetacular! Primeiro porque é letrado, educado e academicamente preparado. Segundo porque possui ampla experiência administrativa e comprovada lisura e competência no trato com a coisa pública.

Se não bastasse, Eduardo não é: corrupto, lavador de dinheiro, peculatário (rachador de salários), financiador e adorador de milicianos, empregador de funcionários fantasmas, autocrata, apoiador de ditadores e terroristas, mensaleiro, golpista, fã de torturador, ex-presidiário, negacionista, homicida, racista, machista e homofóbico.

MORO E ALIANÇA

Não preciso nem irei descrever, pormenorizadamente, o ex-juiz federal e ex-ministro Sergio Moro. Todos o conhecem muito bem, de cor e salteado, e sabem o que fez e representou para o País, até o desmonte, patrocinado pelo bolsopetismo, da Operação Lava Jato e do combate à corrupção na política do Brasil. Os fatos estão todos aí.

Inocente e neófito no mundo sujo da política brasileira, o paranaense entrou de cabeça num governo sujo – que se prometia limpo -, e de lá saiu como traidor, odiado por milhões. Por outro lado, é também odiado pelo extremo oposto, que apoia e idolatra a cleptocracia lulopetista, querendo vê-la de volta ao poder e ao domínio dos cofres públicos.

Moro está sendo feito de palhaço por políticos profissionais do jogo da sedução e da embromação. Agora no União Brasil, depois do Podemos, espera conseguir a vaga para a disputa – com chances! – do Planalto, que eu duvido que virá. Portanto, o bom, ou o ideal, seria concorrer a uma vaga no Senado, em uma chapa encabeçada pela dupla acima.

Pessoalmente, adoraria ver Leite e Tebet, presidente e vice, respectivamente. Porém, diante da fragilidade partidária do gaúcho (o PSDB se tornou um cabaré decadente, passando o ponto antes de fechar), em oposição à pujança partidária da senadora (o MDB é uma máquina eleitoral), talvez a inversão de cargos seja mesmo necessária.

Além do mais, estamos falando de uma dupla (uma mulher e um gay) que enfrentará os mais obscuros preconceitos do reacionarismo bolsonarista, e a mais brutal campanha machista e difamatória dos lulopetistas, como fizeram com Marina Silva, em 2014, além da ira evangélica – dos dois lados, aliás. Tebet, de ambos, talvez seja a menos atacada.

ELEIÇÃO E REELEIÇÃO

Torço sinceramente para a concretização do cenário acima. Acredito que será uma lufada de esperança para quem não quer mais do mesmo. Para quem não quer a alternância entre dois velhos e velhacos, representantes de partidos e de ideias sujas e mofadas, obcecados por poder e dinheiro, sem quaisquer planos ou projetos de futuro para o Brasil.

A diferença de currículo, como já demonstrada acima, é gritante! A diferença de caráter, então, nem se fala. E a diferença das fichas-corridas é incomparável, ao desfavorecer a dupla Mensalão & Rachadão. Leite e Tebet, ou Tebet e Leite, com Moro para o Senado, em uma chapa trabalhando unida e uníssona, pode, sim, derrotar a dupla do atraso.

Eu duvido, mas se o eterno coadjuvante perdedor, Ciro Gomes, em algum momento futuro, ainda no primeiro turno, é claro, antes de ir para Paris novamente, fizesse parte de uma frente democrática contra os horrores do bolsopetismo, as chances seriam ainda melhores e maiores. Mas altruísmo e desprendimento não fazem parte do vocabulário do coroné.

Outra boa, ou melhor, ótima novidade seria o fim da odiosa reeleição, trazida por Fernando Henrique Cardoso. Leite é assumidamente contra e já deu provas concretas ao não disputar nenhuma (vereança e prefeitura de Pelotas e governo do estado). E Tebet, dentro de uma aliança desse porte, talvez abra mão de um possível projeto pessoal em prol do País.

Dentro de mais um ou dois meses, no máximo, as cartas estarão abertas e o jogo será jogado. Espero estar certo, pois iria adorar assistir ao embate eleitoral entre personagens tão distintas e opostas, sobretudo no campo ético-moral, criminal e intelectual. Quem sabe o Brasil, ao menos uma vez, acredite mais nos fatos do que em fantasias, e decida eleger um presidente de verdade, e não um falso Messias ou Pai dos Pobres quaisquer?