Uma mulher de atitude

Uma mulher de atitude

Daniel Schenker Foto Divulgação A Senhorita Julia da peça August Strindberg era uma mulher vivendo no fim do século 19 e que sofria por enfrentar os costumes da época. E ainda é possível que, nos dias de hoje, uma mulher passe por isso? É disso que se trata A Propósito de Senhorita Julia, montagem protagonizada por Alessandra Negrini que adotou como base de trabalho a peça escrita por Patrick Marber, que transportou a ação da obra de Strindberg para a Inglaterra da década de 40. O diretor Walter Lima Jr. centrou a história no início do século 21 ? mais exatamente, na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. O enredo, este sim, remete a Strindberg. Traz à tona o embate sexual e social entre a aristocrática Julia e o motorista (Jean na peça do autor sueco, Moacir na nova versão ? interpretado por Armando Babaioff). Alessandra Negrini acha que as antigas questões permanecem na pauta do dia, ainda que os avanços sejam inegáveis. ?A mulher já não está tão subjugada ao homem?, considera. Strindberg escreveu Senhorita Julia no final do século 19 valorizando o embate entre homem e mulher e a disputa entre as classes sociais. Acha que a passagem do tempo trouxe mudanças significativas em relação a esses conflitos? Sim. O contexto mudou, mas a contradição humana é eterna. Claro que a mulher já não está tão subjugada ao homem. Avançamos bastante. Na nossa adaptação, Julia é uma personagem ativa, como muitas mulheres de atitude, que lutam pelo que desejam. O conflito, contudo, continua. Em A Propósito de Senhorita Julia, você retoma a parceria com Walter Lima Jr. É muito diferente ser dirigida por ele no teatro e no cinema? Não. Já tinha trabalhado com Walter nos filmes Os Desafinados e Meu Filho Teu, uma produção para a televisão italiana. Ele é um diretor de ator. Acho que a diferença está no fato de que no teatro o processo é mais longo e difícil. Fale sobre a sua parceria com Julio Bressane em Cleópatra e A Erva do Rato: O encontro com Bressane foi determinante para mim. Aprendo muito ao lado dele ? e de forma agradável. Ele reconhece o artista em você. Além de Abismo Prateado, você participou de alguns filmes ainda inéditos, não? Fiz Dois Coelhos, de Afonso Poyart, um filme de aventura que parece um game, destinado ao público jovem. E O Gorila, sob a direção do José Eduardo Belmonte. Um trabalho poético, lírico. Meu par é Otávio Muller. E há o projeto de filmar No Retrovisor, mas ainda sem previsão. Teatro Nelson Rodrigues ? Av. Chile, 230, Rio, tel. (21) 2262-5843. Até 12/2.