Na letra da música Como nossos pais de Antonio Belchior (1946-2017), há um trecho no qual se afirma que “Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. No que diz respeito ao contexto político talvez a afirmação seja verdadeira, acontece, no entanto, que existe uma importante mudança na sociedade quando o assunto é o consumo de bebidas alcoólicas. Uma recente pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que o consumo de álcool pela primeira vez foi reduzido entre os jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos de idade. A pesquisa chamada Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), índica que o consumo abusivo de álcool caiu de 25% para 19,3% da população de homens e mulheres. Há sete anos o percentual não ficava abaixo de 20%. Nesse caso tratam-se de pessoas que declaram ingerir sessenta gramas ou mais de álcool, o equivalente a pelo menos quatro doses, em uma única ocasião, ou ao menos uma vez por mês.

A constatação de que a juventude tem deixado o álcool de lado foi realizada no período da pandemia. A situação retratada é positiva dado que a droga é lícita, mas causadora de diversos problemas de saúde, além de alterações comportamentais. O dado do estudo insere o Brasil numa tendência mundial de queda do consumo de bebidas alcoólicas que começou no inicio dos anos 2000. Isso foi observado na Austrália, Reino Unido e em países nórdicos, principalmente. “É uma boa notícia, mas é necessário ter mais medições que confirmem a tendência”, afirma Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA). Os motivos para a queda da ingestão de bebidas alcoólicas são diversos. Além da pandemia, quando a curtição em festas teve que ser contida e fez aumentar o convívio familiar e a vigilância dos pais, houve, por parte dos jovens, a preocupação com os estudos e com o futuro profissional. “É nesse balanço que ocorreu a redução do consumo etílico”, diz o médico.

É o caso Victor Dako, de 20 anos de idade, paulista de Guaratinguetá. Ele conta que bebia cachaça e vodca de três a quatro vezes por semana, no período em que cursou o ensino médio, entre os anos de 2016 e 2018. “Quando veio a Covid reduzi drasticamente a ingestão de bebidas”, conta. Dako explica que decidiu trocar o álcool pelos estudos. Ele alcançou o objetivo, conseguiu passar no vestibular e está cursando psicologia. Espera-se agora, que as próximas pesquisas confirmem que a queda do consumo de álcool é uma tendência.