Embora alguns dados coloquem o estado de Santa Catarina no topo da qualidade de vida no País, com bons níveis educacionais e de desenvolvimento econômico, outras informações, como a grande presença de grupos neonazistas e até mesmo o número de votos que o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro recebeu nas últimas eleições chamam a atenção. E, somado a isso, depois do caso do professor de História que possuía uma piscina com uma suástica desenhada no fundo e da vice-governadora que não condenava o nazismo, uma nova personalidade surge para associar ainda mais notícias horripilantes ao estado. O assunto da vez é a juíza Joana Ribeiro Zimmer, que impediu uma criança de 11 anos, grávida e vítima de estupro, de realizar um aborto legal em Florianópolis.

A história, que chocou o País, fala de uma menina, na época com 10 anos, que foi levada até um hospital da capital para a realização de um aborto. Porém, como a gestação já ultrapassava o limite de semanas permitido pelas normas do hospital, a questão acabou sendo judicializada. O caso chegou à magistrada, que autorizou a ida da menina para um abrigo, usando de justificativa em um dos despachos o “risco” da mãe efetuar “algum procedimento para operar a morte do bebê”.

A juíza catarinense decidiu interpretar a lei, que não dá margens para a interpretação quanto há estupro de menores, usando frases e questionamentos cruéis para tentar convencer a criança a manter gestação. Em um dos trechos mais chocantes da audiência, Joana pergunta: “Você acha que o pai do bebê concordaria pra entrega para adoção?” ao que ela responde um constrangido “não sei”. Que autoridade teria coragem de perguntar a uma criança o que ela acha que seu estuprador pensaria em uma situação hipotética? A juíza ainda tenta ganhar a confiança da vítima oferecendo um presente de aniversário, ela estava prestes a completar 11 anos, a possibilidade de escolher o nome da criança – que ela não quer ter.

Vale lembrar que Santa Catarina é um estado conservador, que defende a ampla pauta da “família tradicional” e que ainda se considera um estado “europeu” por causa das ondas migratórias do final do século XIX e início do XX. Uma parcela da população que se considera de extrema-direita, aquela que não tem vergonha de defender os regimes totalitários do passado, se esquece, porém, que o velho continente mudou e a maioria dos países da Europa ocidental não criminaliza o aborto e é a favor do casamento gay. Por que será que não querem copiar o desenvolvimento econômico e social de um país desenvolvido com da Alemanha atual? O governo social-democrata de Olaf Scholz deve ser de “esquerda” no raciocínio de alguns, ou pior, o medo do tal “globalismo”, que é apenas conversa para boi dormir.

Os extremistas querem uma sociedade de pele branca, cristã e sem nenhuma forma de assistencialismo – seja para crianças, pobres ou qualquer outra parcela vulnerável da população brasileira. Há também no estado um forte movimento que defende a separação do sul do resto do Brasil, chamado de “O Sul é o meu país”, que resume bem o sentimento de superioridade de muitos. Uma pesquisa da professora Adriana Dias da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), revelou que os grupos neonazistas cresceram 158% em Santa Catarina no último um ano e meio. Em três anos, em todo Brasil o aumento foi de 270%. Resultado alarmante que deveria fazer o governador e prefeitos ao menos corarem e buscarem uma solução ao problema.

Outro dado bastante sintomático do atraso catarinense é o forte apoio que o candidato Jair Bolsonaro tem no estado. Em 2018, o atual presidente teria sido eleito já no primeiro turno, pois foi em Santa Catarina que o então deputado federal conquistou o maior número de votos (65,82%), seguido de Fernando Haddad (15,13%) e Ciro Gomes (6,68%). No segundo turno, Bolsonaro recebeu 75.92% dos votos, com quase três milhões de eleitores. Seus discursos contra o aborto, às minorias e aos LGBTQIA+ ainda fazem grande sucesso. Muitos moradores realmente acreditam que “sustentam o país nas costas”, algo que não poderia estar mais longe da realidade. Até quando Santa Catarina vai permitir todas essas atrocidades?