KRAMER, GEORGE, ELAINE E JERRY Sucesso: líder de audiência de 1989 a 1998 (Crédito:Divulgação)

O termo “comédia stand-up” parece moderno, mas não é. Contar histórias para uma plateia é provavelmente a forma de entretenimento mais antiga da história. O estilo evoluiu, ganhou eventuais requintes, mas a verdade é que permanece a mesma arte minimalista e atemporal. Uma pessoa, sozinha no palco, lutando para conquistar risos e aplausos.

O stand-up atual se popularizou no século 19 com o teatro Vaudeville. Nos anos 1930, o rádio transformou comediantes como Jack Benny e Bob Hope em estrelas. Ao fim da Segunda Guerra, os resorts nas montanhas de Catskills, em Nova York, foram palco de uma revolução no estilo graças a nomes como Woody Allen, George Burns, Lenny Bruce e Mel Brooks. Além da ascendência judaica, traziam em comum a temática política, irônica e cerebral. Foi esse tipo de humor que passou a brilhar na TV com o programa “Tonight Show”, apresentado por Johnny Carson, onde surgiram nomes como Steve Martin, Bill Cosby, Robin Williams, Eddie Murphy e Billy Crystal. Em 1981, um jovem chamou a atenção de Carson pela performance simpática e a qualidade de seu texto. Seu nome era Jerry Seinfeld.

Seinfeld chegou a fazer um especial de TV em 1987, mas só ficou mundialmente famoso com a série que levava seu nome, campeã de audiência entre 1989 e 1998. Apesar do sucesso, nunca foi considerado “um ator”: fazia o papel dele mesmo, um comediante, inclusive com trechos de seus shows em clubes na abertura e encerramento dos episódios. Com o fim de “Seinfeld”, ele voltou aos palcos, mas com a frequência que a fama e fortuna permitiam: em raríssimas ocasiões. Fez dois shows (“I’m Telling You for the Last Time” e “Jerry Before Seinfeld”), um documentário sem graça (“Comedian”) e uma série para a internet sobre comediantes tomando café e andando de carro batizado com o criativo nome “Comedians in Cars Getting Coffee”.

No início de maio, lançou o excelente “23 Hours to Kill” (23 Horas para matar). O tempo fez bem a Seinfeld. Ele nunca foi a pessoa mais engraçada em cena, nem o melhor ator de comédia. Há algo, porém, que faz dele um personagem de quem é fácil gostar, como aquele amigo simpático que conta sempre as melhores histórias. A introdução do novo show é memorável: no melhor estilo 007, Seinfeld salta de um helicóptero nas águas do rio Hudson. Pouco depois, surge molhado nos bastidores do teatro. Quando tira a roupa de mergulho, vemos que ele veste por baixo um elegante terno, exatamente como James Bond na cena inicial de “Goldfinger”, de 1964. O resultado é ótimo, mas dá a impressão de que, aos 65 anos, ele começa a exibir sinais da “síndrome de Mick Jagger” – o desespero para mostrar aos outros que você “está bem para a sua idade”. Seinfeld nunca usou tanto o humor físico quanto nesse novo show.

Razão e emoção

O show é dividido em duas partes: na primeira, Seinfeld faz suas observações cirúrgicas de sempre. Fala sobre o amor e ódio que sentimos por nossos amigos, o falso glamour da gastronomia, a nossa dependência dos celulares. É o momento “você já reparou como…”, com um tema atrás do outro. Na segunda parte, ele abre o coração. Fala do casamento, da mulher, dos filhos. Apesar de toda a fama e sucesso, a gente descobre então que ele é gente como a gente. Apenas um cara normal, sozinho no palco, lutando para conquistar risos e aplausos.

A estranha vida de Larry

IMPROVISO Larry David: série sem roteiro (Crédito:Buchan/Variety/REX/Shutterstock)

Apesar de levar o nome “Seinfeld”, o grande responsável pelo sucesso da série foi seu co-criador, o comediante Larry David. Dono de um humor ácido e uma visão de mundo bastante própria, foi dele a ideia de fazer uma série “sobre nada”. Seu alter-ego no programa, George Costanza, era o mais engraçado porque muitas das histórias eram baseadas em situações vividas por Larry David na vida real. George só foi interpretado pelo ator Jason Alexander porque Larry não quis se comprometer com as filmagens semanais e a rotina de estúdio. Larry optou por ficar nos bastidores, como o roteirista principal. Dois anos depois do fim de “Seinfeld”, porém, ele se arrependeu e estreou na frente das câmeras como protagonista da série “Curb Your Enthusiam” (Segura a Onda, no Brasil), que está na 10º temporada. Desta vez, não se escondeu atrás de um alter-ego: seu personagem é ele mesmo, Larry. A longevidade da série é surpreendente, uma vez que os episódios não têm sequer um roteiro normal, com começo, meio e fim. Há apenas orientações sobre a história e as cenas. No final, o que todo mundo quer ver é Larry sendo Larry – e as divertidas histórias de sua estranha vida.

Um elenco inesquecível

Ele ainda é o eterno George

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Nos anos 2000, Jason Alexander participou de séries como “Monk” e “Malcolm”. No cinema, atuou em “O Amor é Cego”, com Jack Black e Gwyneth Paltrow, e “Sempre ao seu Lado”, com Richard Gere. O ator tenta se livrar de George Costanza desde o fim de “Seinfeld”, mas é impossível olhar para ele e não lembrar de seu personagem.

Elaine virou vice-presidente

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Com exceção de Jerry, Julia Louis-Dreyfus é a ex-Seinfeld mais bem-sucedida do elenco. Depois de interpretar Elaine Benes, foi a protagonista em “The New Adventures of Christine” (As Novas Aventuras de Cristina), de 2006 a 2010, e ganhou vários prêmios como uma divertida vice-presidente dos EUA em “Veep”, entre 2012 e 2019.

Kramer surtou na vida real

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Michael Richards interpretou o maluco Cosmo Kramer em “Seinfeld”, mas seu maior surto foi na vida real. Além do cancelamento do “Michael Richards Show”, a única notícia sobre ele não teve graça: o ator xingou dois homens com expressões racistas durante um show em um bar. Depois, foi à TV e pediu desculpas.