Preservado por 7 milhões de anos, o crânio fóssil de uma baleia cachalote foi encontrado em meio ao deserto de Ocucaje, no Peru. A descoberta não é a primeira do país sul-americano: o Museu de Lima já possui outras, algumas datadas de períodos anteriores. Esse novo fóssil se diferencia dos demais por conter, além do crânio, mandíbulas, ossos dos ouvidos e vértebras articulares. É o fóssil mais conservado já descoberto.

“Pode ser surpreendente, mas para a paleontologia 7 milhões de anos não é muita coisa”, afirma o professor Luiz Eduardo Anelli, diretor da Estação Ciência da USP. “A Terra de hoje é muito parecida com a daquela época, que coincide com o surgimento dos primeiros hominídeos na África.”

Foi encontrado no Peru o fóssil mais bem conservado da história da arqueologia
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Isso explica o porquê desse fóssil estar tão bem conservado. A região de Ocucaje, área desértica a 40 km da costa oeste do país, era coberta pelo mar, e a carcaça do animal sobreviveu às mudanças climáticas. Isso foi facilitado pelo clima seco do deserto.
O animal era anfíbio e tinha quatro patas para andar na terra. A espécie existe até hoje, apenas aquática. Os maiores exemplares podem chegar a 16 metros de comprimento, e estão em risco de extinção. Seu corpo é muito procurado por caçadores que desejam vender carne e vísceras – que possuem líquidos capazes de fixar perfumes. O principal atrativo, entretanto, é um óleo que eles carregam em uma bolsa na cabeça, mas que a indústria farmacêutica visa para utilizar em compostos.

O crânio encontrado caracteriza um animal adulto de médio porte, ou seja, de cerca de cinco metros. No período em que viveu, era capaz de se alimentar de peixes, lontras e focas, diferentemente do gigante da atualidade, que come principalmente lulas do fundo dos oceanos.

Anelli chama atenção para o impacto social, para além do acadêmico, de um fóssil tão bem conservado. “O dinheiro investido na pesquisa precisa ser revertido para educar as pessoas sobre as mudanças do mundo e sobre como preservá-lo para que animais como o cachalote não entrem em extinção”.

*Estagiária sob supervisão de Thales de Menezes