Coluna: José Manuel Diogo

Fundador da Informacion Capital Consulting e Diretor da Câmara de Comércio e Industria Luso Brasileira em Lisboa onde coordena o comité de Trade Finance é o autor do estudo "O Potencial de Expansão das Exportações Brasileiras para Portugal”. Atua atualmente como investidor e consultor, estando envolvido em projetos de intercâmbio internacional nas áreas do comércio, tecnologia e real estate. Vive com um pé em cada lado do Atlântico, entre São Paulo e Lisboa. É autor e colunista na imprensa internacional sobre temas de investimento, importação e exportação e inteligência de mercado. É um entusiasta da cultura e da língua portuguesa.

Uma estratégia chinesa

José Manuel Diogo
Foto: José Manuel Diogo

O setor da construção civil nunca paralisou durante a pandemia e, embora a crise do coronavírus tenha devastado a economia, a construção seguiu aquecida e as empresas do setor apontam a um ano cheio de lançamentos e abundante receita.

A atividade imobiliária se mostrou imune a lock downs e auxílios emergenciais e; enquanto outras atividades estagnavam esperando a vacina, novos prédios continuavam crescendo nos centros das cidades de todo o mundo.

Aqui no Brasil, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) — relativa a novembro 2020 — a utilização da capacidade operacional no setor atingiu 63% no período, o maior nível desde dezembro de 2014.

Mas há um problema: o desaparecimento das matérias primas. Mundialmente os stocks ficaram sem reposição porque as indústrias que abastecem a construção de ferro, aço, madeira, vidro e alumínio pararam de laborar, sté que no fim da pandemia as empresas descobrem seus armazéns vazios.

Mineração, indústria pesada e indústria transformadora se mostram incapazes atender os prazos — que continuaram contando — porque nem arquitetos, nem empreiteiros precisaram pendurar a pá ou o ponteiro.

Para contrariar este “inesperado” cenário, mas em linha com o que tinha já acontecido no início da pandemia com máscaras, testes e ventiladores, a economia mundial sofre — de novo — com a estratégia preferida da China: o açambarcamento.

Por causa disso a economia internacional parece entrar – de novo — em um super ciclo inflacionista. Um ciclo semelhante a esses que aconteceram na história recente. O primeiro há 100 com o surgimento da hegemonia Norte-americana; depois nos anos 50 do séc. XX, no após segunda Guerra Mundial; o terceiro no início dos anos 70, com o choque petrolífero; e por último no final da primeira década deste milénio com o surgimento da China como potência económica global.

Como a pandemia funciona estimula a economia exatamente como uma guerra, o aumento generalizado do preço das commodities nem surpreende. Isso acontece sempre que existe uma crise global.

A verdadeira novidade — que agora faz subir o preço do metro quadrado das casas em todo o mundo — é que, pela primeira vez, a história repete um novo “culpado” — a China — no mais curto ciclo de sempre – 10 anos.

Mesmo que os números da macroeconomia ainda não o mostrem, a tradicional força do setor da construção na recuperação das crises, vai mostrar que China já é a maior potência global. Em tempo de paz não ganha o mais forte, sim o mais flexível.