Muitas das autoridades e especialistas que estão dando declarações sobre a operação do governo contra o garimpo ilegal na terra dos Yanomamis bate com insistência numa tecla: a distinção entre os bandidos que organizam e bancam a atividade criminosa e alguns garimpeiros miseráveis que estavam ali para ganhar alguma coisa, aceitando trabalho sem condições dignas, quase em regime análogo à escravidão. Sim, esses não são poucos, talvez formem a maioria.

De qualquer modo, esses garimpeiros sem recursos estão fugindo a pé da região, em caminhadas que podem durar dias. Não conseguem pagar um a passagem de avião para a fuga, que chega custar R$ 15 mil. As forças do governo que os interceptam pela mata ou por estradas de terra têm ordem para tomar deles instrumentos do garimpo. E também ordens para deter aqueles que aparentarem uma participação mais independente no garimpo (como alguém mede isso?) ou oferecerem resistência. Muitos, até com mulher e filhos, são autorizados a continuar a longa caminhada. Parece ser a decisão correta, sob o ponto de vista humanitário. No aspecto criminal, é deixar de processar quem estava cometendo uma atividade ilegal. A questão rende muito debate.

Agora, incrível mesmo é o anúncio de que a FAB autorizou rotas de saída para aviões particulares. São rotas de demarcação bem rígida, com no máximo 11 km de largura (o que em aviação não é grande coisa). Quem está utilizando esse recurso tem os R$ 15 mil para pagar. Fica entendido que cada passageiro é um dos sujeitos que estavam ganhando razoavelmente bem na exploração do ouro ilegal. Certamente alguns peixes grandes do crime ambiental devem ter escapado da região nesses voos. Trata-se de uma decisão controversa. Para incentivar uma saída mais rápida do contingente criminoso que estava saqueando e emporcalhando o território Yanomami, a ação militar abre mão da chance de capturar alguns graúdos do garimpo ilegal? Fica muito difícil justificar essa estratégia. Já será difícil evitar que muitos criminosos saiam impunes. E facilitar a saída é, realmente, muito estranho.