O Japonês da Federal bateu à porta do palácio.
Um sujeito alto, vestindo a farda imperial, atendeu:
– Pois não? – arrogante.
O policial empurrou o sujeito para o lado com um mandado de busca e apreensão.
E condução coercitiva.
Doze federais armados e mascarados invadiram os aposentos do imperador.
Encontraram D. Pedro I deitado, de ceroulas, tirando a siesta.
Saiu com as mãos para trás simulando algemas.
A imprensa caiu de pau.
Moro respondeu que não adiantava reclamar.
Que os corruptos atuais já estavam todos presos.
– …mas a corrupção no Brasil é uma herança ancestral. Por isso decidimos ir atrás das origens.
Era a segunda vez que Moro precisava se explicar.
A primeira foi quando acatou a representação do Ministério Público contra Tiradentes, sob protestos do Conselho Nacional de Odontologia.
– Ninguém vai escapar. Não temos compromisso com partido nenhum. Nem Republicanos, nem Federalistas. Nem Esquerda, nem Direita.
O Marechal Deodoro foi preso e julgado por uma corte militar.
O processo de impeachment retroativo começou a tramitar.
A elite branca clamava pela prisão de Getúlio.
Ao Japonês, Moro determinou que Vargas não tivesse acesso a nenhum objeto cortante e que deveriam tirar dele o cinto e a gravata.
Café Filho escapou porque ninguém lembrou dele.
Juscelino foi condenado a 50 anos. Prisão domiciliar em 5.
Conforme as prisões prosseguiam, a tensão tomava conta do País.
Chegavam perigosamente perto dos presidentes militares.
Prenderam Jânio.
– Nada temê-lo-ei pois inocente sou. – afirmou.
Jango escapou.
Ao contrário do que se esperava, a Operação Onça Pintada, nome dado em homenagem à mascote do exército, correu sem maiores dificuldades.
Castelo Branco, Costa e Silva, Medici, Geisel e Figueiredo foram presos no mesmo horário.
Dividiram a mesma sela.
Sela com s.
Daquele cavalo do Figueiredo que cheirava melhor que o povo.
País em festa.
Moro prendeu todo mundo.
O pessoal da Coroa Brastel, os anões do Orçamento, Banestado, Sivam.
Resolveu o caso Celso Daniel, os fundos de pensão.
Apreendeu os carros do Collor, o pessoal das merendas de São Paulo, os que fraudaram os remédios do SUS, corruptos, ladrões, canalhas, ratos de todos as subespécies.
Maluf foi entregue para a Interpol.
Presidentes recentes e seus parentes cumprindo cana generalizada.
Moro não podia mais sair às ruas.
Era ovacionado, carregado, tinha roupas rasgadas como, sei lá, um vlogger.
Mas não era um homem feliz.
– Sabe aquela sensação de que falta algo? – insistia ao psicólogo em sua sessão semanal.
Tirou um sabático.
Sumiu.
O povo sentia a sua falta.
Fizeram músicas tipo Renato Russo.
Imploravam sua volta.
Um dia, assistindo a um Corinthians e Atlético Paranaense, teve uma epifania.
Assumiu de volta prometendo finalmente resolver seu derradeiro desafio.
Sua piece de resistance.
Dia seguinte, logo cedo, o Japonês e sua equipe estavam plantados no aeroporto do Galeão.
A seleção da Alemanha foi presa 18 horas antes do 7×1.
O País tomou às ruas.
O herói voltou.
Moro se aposentou no mesmo dia que inauguraram sua estátua no Maracanã.
O País, finalmente, poderia cumprir em paz o seu destino.

“Ele não podia mais sair às ruas. Era ovacionado, carregado,
tinha roupas rasgadas como, sei lá, um vlogger”