De todas as eleições presidenciais desde 1989, a eleição deste ano deverá ser a mais despolitizada. E sendo um pleito em que um dos candidatos concorre à reeleição deveria ocorrer justamente o contrário. Qual a principal razão? Jair Bolsonaro. A estratégia de Bolsonaro é de sempre deslocar o eixo do debate para questões secundárias, marginais, e desta forma se eximir da responsabilidade pelo pior governo da história da República. E se afastar de apresentar propostas sobre o futuro do Brasil e de como o nosso País vai se inserir no mundo em uma conjuntura complexa como a da terceira década do século XXI. Até o momento, Bolsonaro ignorou solenemente as questões estruturais como se fossem absolutamente irrelevantes. Procurou auditórios – quase sempre religiosos, especialmente os fundamentalistas – para dissertar obviedades na busca desesperada de votos.

Sua participação no único debate televisivo foi marcada pelo primarismo das perguntas e respostas, acentuando o desconhecimento não apenas do vocabulário, como também no campo argumentativo. O que chama a atenção é que Bolsonaro passou 28 anos em Brasília como deputado federal e nada aprendeu sobre administração pública e temas correlatos. O nivelamento por baixo da campanha eleitoral impediu que os eleitores pudessem ser informados das propostas dos candidatos e consequentemente rebaixou a qualidade do debate. Na verdade, debate, no sentido lato, não ocorreu. São ataques de um lado e de outro, a busca incessante da “lacração”, mas conteúdo que pudesse levar a uma reflexão que avançasse a consciência política do eleitorado ficou ausente.

Chama a atenção que Bolsonaro passou 28 anos como deputado federal e nada aprendeu sobre administração pública e temas correlatos

A estratégia de Bolsonaro está sendo vitoriosa. O desafio para ele é manter este estilo de campanha fazendo com que seus adversários sempre tenham de responder sobre temas descolados das necessidades mais prementes do País. Quem impõe e determina o ritmo é sempre ele. Isto fica mais patente no processo eleitoral tendo em vista que durante três anos as oposições ao seu governo não conseguiram construir alternativas eleitorais, muito menos de poder. Basta observar o que ocorreu com a chamada terceira via. Foram cerca de dez candidaturas abatidas desde o ano passado. A autofagia política impediu, no momento adequado, a construção de uma alternativa viável, com programa e alianças políticas em todas as unidades da federação. Ao invés disso, cada partido buscou a sua sobrevivência deixando de lado a construção de uma efetiva opção à barbárie.