NOVA TÉCNICA O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo se vale de ondas eletromagnéticas de alta frequência para tratar lesões: método menos invasivo (Crédito:WERTHER)

No Brasil, assim como no mundo, o câncer de pulmão é o tipo mais mortal. No ano passado, 92% dos 34.511 novos casos levaram a óbito, segundo o Globocan, projeto internacional que compila dados de cada país. Esse ano, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que essa doença dos órgãos respiratórios atingirá 31.000 novos casos. Mas, apesar da gravidade, a doença ainda é subnotificada no País. Somente 24,5% dos casos foram registrados nos dados mais recentes do Registro Hospitalar de Câncer (RHC), de 2016, segundo levantamento do Instituto Oncoguia. Das 28.220 incidências, apenas 6.915 acabaram notificadas. Para Luciana Holtz, presidente do Oncoguia, há muitos desafios ainda para se conseguir atingir dados confiáveis. Eles vão desde a falta de obrigatoriedade na notificação por parte das instituições até a demora na compilação das informações. A falta de conhecimento da realidade tem como consequência a morosidade nas decisões e a dificuldade em se adotar políticas públicas eficientes — por exemplo, a indicação de tomografias de baixa dose para pessoas de alto risco. No mundo, o câncer de pulmão é o mais frequente. No Brasil, a incidência é inferior ao de mama, próstata e colorretal, nessa ordem.

Além da subnotificação, os registros também não reportam com precisão os hábitos que podem ter contribuído para a doença. Somente metade deles (51,6%) tem dados sobre o tabagismo. É uma lacuna importante, já que o fumo é associado à maioria dos casos. Quando é conferida essa informação, a conexão é clara. 79,1% dos doentes são fumantes ou ex-fumantes, enquanto 20,9% nunca tiveram contato com tabaco.

Uma das razões para a alta taxa de mortalidade é o registro tardio. Em 86,2% dos casos apontados em 2016, a doença já estava em estágio avançado, o que compromete as chances de tratamento e cura. No entanto, os dados internacionais não desmentem o alto índice de letalidade no Brasil (92,3%). No mundo, dos 2 milhões de casos ocorridos em 2018, a mortalidade foi de 84,1%.
A melhor forma de combater a doença ainda é a prevenção: por exemplo, o combate ao tabagismo. “O Brasil está bem nisso. É um câncer evitável”, afirma Luciana. Ela aponta o risco de modismos como o uso de cigarros eletrônicos, que podem estimular o hábito nos jovens.

Em 86,2% dos casos apontados em 2006, a doença já estava em estágio avançado dificultando o tratamento

Uso de micro-ondas

Uma notícia positiva para o combate à doença – assim como na luta os tumores de fígado, rim e ossos – vem do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A instituição está trazendo para o Brasil uma técnica que utiliza radiação eletromagnética de alta frequência (micro-ondas) para tratar lesões de forma menos invasiva e mais rápida. O método já demonstrou resultados semelhantes aos obtidos nas cirurgias, mas sem remoção de tecidos sadios. Ele é indicado para tumores de até 3 cm de diâmetro e não pode ser aplicado em regiões perto de brônquios grandes. É uma boa notícia para uma doença que ainda exige toda a atenção – pública e privada.