O samba erguido pelo movimento de Cacique de Ramos nos anos 80 veio com um formato tão bem desenhado que virou jogo ganho, para o bem e para o mal. O partido-alto recriado ali por Ubirany, Bira Presidente, Almir Guineto, Jorge Aragão e Zeca Pagodinho é de uma resistência inoxidável. Os anos se passaram, os subgêneros chegaram, o pagode industrial fez fortunas nos anos 90, mas foi o partido que mostrou uma força de vida própria e paralela. Nenhum outro samba tem mais força do que ele.

Dentre os reis desse tabuleiro, Arlindo Cruz é o maior deles, tanto que seu filho, Arlindinho, não precisa se preocupar em descolar sua imagem da do pai tão cedo. O que seria um problema de outros filhos de artistas parece assumido aqui como uma honra. Se Arlindinho abrir mão de buscar a tal identidade particular e se dedicar a cantar apenas a obra do pai terá uma longa carreira garantida.

Disco 2 Arlindos é uma prova do potencial de composição desse homem de 56 anos, retirado de cena no momento para cuidar de um AVC. Craque partideiro, sua música tem a comunicação imediata das rodas.

É esse o approach de temas como Bom Aprendiz, primeira composição de pai e filho, e A Volta, um arranjo cheio, feito para a “orquestra” rítmica da qual Arlindo sempre gostou e um refrão impossível de não ser preenchido por um novo significado: “Eu vou dar a volta por cima / A dor muitas vezes ensina”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.