07/07/2016 - 10:48
Essa semana comprei um computador velho no eBay.
Um Macintosh Classic de 1994.
Comprei só porque coleciono essas bobagens já que não tem muito uso nem valor, hoje em dia.
Comprei baratinho e arrisquei que chegaria em bom estado.
Chegou, quem diria.
Um computador de um ponto qualquer dos Estados Unidos viajou por 21 anos até chegar em mim.
Funcionou perfeitamente.
A tela se iluminou, fez uns barulhinhos e pronto.
Iniciou sem nenhum erro.
Por alguns segundos fiquei olhando embasbacado.
Na tela a setinha do mouse aguardava meu input.
Fucei um pouco e descobri que não havia nada instalado.
Só um sistema operacional básico.
E um arquivo de texto bem no meio da tela.
A Letter for Sue.
“Uma carta para Sue”
Curioso que o antigo dono tenha apagado todos os arquivos menos essa carta.
Por um segundo tive dúvida em abrir.
Privacidade, afinal, não tem prazo de validade.
Mas foi só um segundo.
Abri.
“Querida Sue,
Não posso acreditar que já faz um ano que você partiu.
Como está sua vida?
Desculpe não ter escrito antes… não gosto muito de escrever.
Desculpe também não ter lembrado do seu aniversário.
Ainda mais você, que sempre foi tão gentil lembrando do meu.
A vida aqui segue como antes.
Ou quase.
Casei, finalmente!
Estamos muito felizes e planejamos até ter filhos.
Quem diria, eu com filhos!
Pretendemos ir a Rexburg no inverno para visitar meus pais.
Lembro constantemente de você.
Quase todos os dias.
Uma pena que você tenha ido embora.
Um dia talvez eu vá visitar você.
Ou não.
Não acho que a gente vá se ver de novo depois de tudo que eu fiz.
Sinto sua falta todos os dias.
Helen
P.S. Espero ter coragem para, dessa vez, enviar essa carta.”
A única opção era imprimir a carta e enviar pelo correio.
Mas não acho que foi o que aconteceu.
Helen deixou a carta ali, num computador abandonado há vinte e dois anos.
Como uma mensagem na garrafa, a esperança é que alguém encontre um dia. Se desfez do computador, mas não teve coragem de se desfazer da carta.
Essa carta no centro da tela é seu último fio de esperança.
A esperança que alguém tenha a coragem de dizer a Sue o que Helen não conseguiu.
Resta só a internet.
Se a internet fizer essa carta chegar às duas, só elas entenderiam.
Além de você e eu.