A decisão já era esperada pelo mercado. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu nesta semana a taxa básica de juros para 6% ano, colocando o índice no menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. Mas a dimensão da queda, de 0,5 ponto percentual, surpreendeu. Os analistas esperavam um corte de 0,25 ponto.

Um dos motivos da queda é o bom comportamento da inflação. O relatório Focus compilado pelo Banco Central indica que o mercado espera a inflação abaixo da meta nos próximos três anos. Em junho, o acumulado do IPCA em 12 meses foi de apenas 3,37%, enquanto a meta de inflação do BC para é 4,25% para 2019. Outro fator é externo. No mesmo dia em que o Copom anunciou a baixa no Brasil, o Federal Reserve, diminuiu a taxa básica americana em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 2% a 2,5% ao ano. É o primeiro corte desde 2008. Ocorre num momento internacional de desaceleração e vai ter repercussões na economia de todo o mundo. Os EUA enfrentam os riscos gerados pela guerra comercial com a China, que já afeta sua economia.

Inflação controlada e aprovação da Reforma da Previdência foram fundamentais para a decisão do BC

Queda expressiva

No Brasil, pesou a aprovação inicial da Reforma da Previdência. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, condicionava uma nova queda à concretização de uma agenda positiva de reformas. “Ao fazer um corte de 0,5 ponto percentual, o BC mostrou uma grande confiança na sua estratégia. Aproveitou a aprovação da Previdência e o corte de juros do Fed. Foi também uma janela de oportunidade”, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

Mas há dúvidas entre os economistas se a medida será suficiente para impulsionar a economia. “Não acho que vai estimular. O ciclo de quedas vai ter um efeito marginal”, diz Latif. Para ela, o Brasil está com um problema muito mais estrutural de baixo crescimento do que de demanda. A questão maior é o baixo potencial, como o parque produtivo obsoleto e a infraestrutura insuficiente. Nesse cenário, a capacidade de a política monetária trazer crescimento é pequena. Com ela concorda André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton. “O problema não são os juros, que já estão em um patamar muito baixo. Sobrou para o BC fazer o trabalho do Ministério da Economia.”

CONVICÇÃO Ao fazer um corte de 0,5 ponto percentual, o BC mostrou uma grande confiança na sua estratégia, diz Zeina Latif (Crédito:Luis Ushirobira)

A queda da Selic leva pelo menos seis meses para impactar a economia. “A alta taxa de desemprego, de um lado, e o elevado nível de endividamento das famílias, de outro, limitam uma retomada mais rápida do consumo”, diz Mauro Rochlin, da FGV. A queda foi comemorada pela Firjan e pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que cobrou novas reduções. Ela estimula a economia porque juros menores barateiam o crédito e incentivam a produção e as compras. Num movimento que deve ser acompanhado por outros bancos, a Caixa Econômica Federal diminuiu as taxas para os clientes, tanto para pessoas físicas quanto para empresas. A taxa do cheque especial cairá de 13,45% (pessoa física) e 14,95% (empresas) para 9,99% ao mês.

Como a percepção de risco do país está em queda, isso também contribui para o ambiente de estabilidade e pode significar que há condições de uma baixa estrutural nos juros. Os CDS (Credit Default Swaps), títulos que funcionam como um termômetro de confiança no país, voltaram aos patamares de cinco anos atrás. Espera-se que o anúncio do BC inicie um novo ciclo de queda nas taxas básicas de juros. A aposta agora é que até o final do ano a Selic caia para 5%.